Crítica - Restaurante
Descolado, José tem resultado irregular
Cardápio enxuto, com preços fixos, traz ideias boas, mas que precisam de aprimoramento
Aquele pedaço de Higienópolis perto do cemitério da Consolação, onde cresce o número de restaurantes variados, ganhou em setembro novo personagem, o José.
Como quase todos os demais, é uma casa descolada e com toques modernos, visando o público de alta renda do bairro, e com os riscos inerentes --ser descolado pode esbarrar em cânones simples como a modéstia e a cordialidade no atendimento.
A comida tem ares mediterrâneos --mais para franco-italiana, mas também com sabores espanhóis e árabes e intervenções contemporâneas. A sociedade de quatro amigos começou a nascer quando o chef Rodrigo Lacerda, 34, voltou de 11 anos trabalhando no exterior, principalmente na França.
Um de seus sócios, o produtor de eventos Cacá Ribeiro, 52, encontrou o imóvel, e a eles dois se juntaram o também produtor José Eduardo Rotella, 50, e o executivo José Eduardo Reis, 46.
É um cardápio com poucos pratos e sem muita complicação, com preços fixos (entradas, R$ 39; pratos, R$ 59) que facilitam as escolhas, embora na real haja pratos que deveriam custar menos.
Ele traz um item meio raro na cidade, mas sempre bem-vindo, rãs à provençal (sobre homus e tomate, apesar da feia apresentação); e algumas novidades interessantes, como a kafta de camarão com tempero de leite de coco, zaatar e limão-siciliano com geleia de pimenta.
E ainda uma boa ideia, mas que precisa ser aprimorada: o atum envolto em fatias de salame espanhol, servido com caponata siciliana com laranja, pinoli e molho de vôngoles. O embutido é forte e picante demais, quase mata o sabor do peixe, e a caponata desequilibra, mas a ideia promete.
Há uma única massa, mas não convence --caneloni de agrião, muito cozido, com recheio insosso de rabada sobre tartare de tomate e alcachofra, gratinado.
Funcionam melhor a "brandade" de pato assado com alcachofra, azeitonas e limão-siciliano confit (embora nada seja "brandade": está mais para escondidinho, pois o pato é desfiado grosso e coberto com batatas amassadas com azeite, salsa e alho).
Também saboroso e sem erros, o steak tem uma leve "béarnaise" e legumes (sobre homus novamente, uma repetição para quem comeu as rãs de entrada). E na sobremesa, a galette de maçã verde e amêndoas assadas ao forno é caramelizada com ferro quente e servida com sorvete de baunilha.
Se você come pouco e se sentir atraído por um prato infantil, não se atreva a pedi-lo: garçom e chef, após grosseiras recusas, só aceitarão servi-lo numa porção dobrada e com preço triplicado (e será uma carne louca massacrada por catchup).