Crítica - Restaurante
Bistrô 28 é entreposto da Amazônia
Sabores do Norte predominam em casa que tem nome francês e chefs de origem italiana
Os irmãos Mischi nasceram em São Paulo e aqui estudaram gastronomia e desenvolveram a carreira; mas, mesmo com o nome italiano, fizeram de seu Bistrô 28 um entreposto de sabores amazônicos.
O mais novo, João Mischi Filho, 31, desde jovem optou pela profissão de chef. Depois de formado pela FMU foi para o Piemonte, onde concluiu, em 2005, o curso no ICIF, instituto de cozinha italiana para estrangeiros.
Renato Mischi, 38, foi publicitário antes de também fazer gastronomia e se unir ao irmão, que havia sido chef na Mercearia do Conde.
Em 2011 abriram o Bistrô 28 numa casa com dimensões de bistrô e 28 lugares. Em que pese a denominação francesa e a genealogia italiana dos donos, decidiram servir esta cozinha de ingredientes brasileiros do Norte.
Não é um fenômeno isolado em São Paulo --pelo contrário, é cada vez mais presente e sempre bem-vindo. A mim pelo menos, mesmo não estando numa casa de cozinha amazônica, agrada sentir sabores e texturas de pirarucu, mandioca, cupuaçu.
A cozinha não é tradicional e nem sempre as combinações são as melhores, mas o conjunto é agradável, torneado para arredondar sabores ainda exóticos aqui ao sul.
O pirarucu tem uma crosta um pouco grosseira e démodé de castanha-do-pará, mas traz seu sabor e se valoriza com o palmito na manteiga de garrafa (vem também com uma torre de legumes).
Mas o prato de peixe mais popular é o picadinho de tambaqui em tela de abobrinha (legume trançado, como na "nouvelle cuisine") com farofa de dendê e arroz Iansã (com castanha-de-caju). Ele faz frente à caldeirada paraense com farofa quebradinha de Pernambuco e arroz branco.
Os pratos vêm após petiscos como bolinho de pato com tucupi e pastel de tacacá.
Para não dizer que a Itália ficou totalmente de lado, há bruschettas, massas e risotos --estas, na maioria, envoltas por paladares amazônicos.
Casos do nhoque de dendê com camarão à baiana, do espaguete com polvo na manteiga de limão, pimenta defumada e coentro, e do gostoso risoto de camarão à moda do Pará, com feijão-manteiga, tucupi e leite de coco fresco.
Na sobremesa, exemplo da filosofia da casa (e do esforço dos irmãos em busca de bons ingredientes) é o bolinho de chocolate da ilha do Combu (PA) com geleia de cupuaçu.