Ao pó voltaremos
O 'alimento do futuro' tem gosto de quê? A Folha convidou dois chefs e um crítico para degustar o Soylent, composto que virou hit nos EUA
Tudo começou em 2012, quando o engenheiro elétrico Rob Rhinehart passava dias fechado em um apartamento em São Francisco, com dois sócios, tentando desenvolver um software.
O trio vivia com recursos limitados (US$ 175 mil investidos pela incubadora Y Combinator), o dinheiro estava acabando e nada de o projeto dar certo. Interromper o trabalho para comer, e ainda gastar preciosos tostões, tornou-se um fardo.
A solução inventada por Rhinehart --uma fórmula que reúne os nutrientes fundamentais para a sobrevivência, como proteínas, carboidratos e lipídios-- fez tanto sucesso que ele desistiu do software para lançá-la no mercado.
Três anos depois, o negócio acaba de receber aporte de US$ 20 milhões do fundo de investimento Andreessen Horowitz para incrementar a produção e o sistema de entregas, que não deram conta de tanta demanda.
O inventor não revela qual o tamanho da produção nem para quem vende, mas o site cita entre o público-alvo um DJ que não sai do estúdio, um casal fazendo trekking e uma mulher que vai do escritório direto para a academia --todos jovens.
O nome foi inspirado no filme "Soylent Green - No Mundo de 2020", de 1973. Na trama futurista, o planeta sofre com a carência de alimentos e a população vive da bolacha soylent green, produzida secretamente com carne humana.
Dirigida por Richard Fleischer, a película, por sua vez, é baseada no livro de ficção científica "Make Room! Make Room!", de 1966, onde surgiu o nome soylent pela primeira vez --lá, ele é uma carne feita de soja (soy) e lentilha (lentil).
O Soylent de Rhinehart tem fórmula conhecida, mas ainda assim divide opiniões.
Para degustá-lo, a Folha reuniu o crítico Josimar Melo e os chefs Ana Luiza Trajano (Brasil a Gosto) e Alberto Landgraf (Epice), nada simpáticos à invenção.
Mas há quem veja a ideia com entusiasmo. Um dos fundadores do Instituto Atá e ex-dono de restaurante, o publicitário Rafael Mantesso, 31, acha que há mercado para o Soylent mesmo entre quem, como ele, ama comer.
"Me fechei em casa por quatro meses, para me dedicar a um projeto, e tenho vivido de delivery. Não tenho paciência para cozinhar para mim. Acho genial a ideia de apelar para algo assim em momentos específicos."