O faminto - André Barcinski

Um pé-sujo do Peru

NÃO É fácil achar o Rinconcito Peruano. O lugar não tem placas e nem os vizinhos da rua Aurora, na região chamada de "cracolândia", parecem conhecer o restaurante.

Fui sem saber o endereço certo. Perguntei a quatro ou cinco pessoas, sem sucesso. Até que um guardador de carros me salvou: "Vai andando por essa calçada. Quando você sentir o cheiro de peixe, pode subir que é lá".

E era mesmo. Dei de cara com uma portinha e uma escada escura. Subindo, há um salão simples, com uma dúzia de mesas com toalha de plástico. "En el corazón de São Paulo, a servicio de la comunidad latinoamericana", dizia.

Nas paredes, TVs exibiam a novela mexicana "Maria Mercedes". Enquanto a tal Maria, com um cabelo armado de laquê parecendo uma integrante do grupo Motley Crue, chorava nos ombros de uma amiga, trabalhadores latinos se fartavam com "lomo saltado a lo pobre", um pratão de carne em tiras, tomate e cebola, com batatas fritas, banana-da-terra frita e um ovo em cima.

Pedi o arroz com mariscos, muito bom, com fartura de camarões e mexilhões. Dava para duas pessoas, talvez três. Ao meu lado, um casal pediu dois cebiches. Não precisava. Uma porção daria tranquilamente para ambos.

Fiquei babando pelos chicharrones de calamares (lulas dorê), servidos com batata frita e salada, e curioso para provar o "leche de tigre", que a garçonete definiu como "o suco do cebiche".

As garçonetes são simpáticas, mas não falam português e não parecem fazer muito esforço para aprender. Ir ao local é uma boa oportunidade de exercitar seu portunhol.

Um dos donos me disse que, no fim de semana, o lugar fica cheio de famílias, se deliciando com o "caldo de pollo" e a "jalea de pescado".

Como as porções são grandes, o ideal é ir com amigos e pedir pratos variados. Mas só volto lá no fim de semana. Porque retornar ao trabalho depois de comer um "lomo saltado" não é para qualquer um (rua Aurora, 451, tel. 0/xx/11/3361-2400).