O faminto - André Barcinski

O fim do chope na calçada?

PARECE QUE São Paulo não está satisfeita em perseguir a comida de rua e tirar das calçadas barracas, tabuleiros e carrinhos de comidas típicas. Agora, o alvo é a bebida.

O deputado Campos Machado (PTB) apresentou um projeto de lei que proíbe, em todo o Estado, a venda e o consumo de álcool em ambientes públicos, como calçadas, praias, festas e feiras.

Segundo o site do deputado, o projeto de lei já foi aprovado em todas as comissões da assembleia paulista. Uma "relação provisória de apoiadores", também no site de Campos Machado, lista o vice-presidente da República, Michel Temer, os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), Álvaro Dias (PSDB), Fernando Collor (PTB), Paulo Paim (PT) e até Luiz Flávio Borges D'Urso, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional São Paulo.

O objetivo do projeto é reduzir acidentes de trânsito causados por motoristas embriagados.

Estou enganado, ou já não existem leis que lidam com isso? Não é proibido dirigir depois de beber?

Mais uma vez, São Paulo opta pela saída fácil: se fiscalizar e punir dá trabalho, o melhor é proibir. Vamos punir a coletividade para coibir os excessos de alguns.

É a mesma lógica da proposta do deputado Jooji Hato (PMDB), apoiada pelo prefeito Gilberto Kassab (e felizmente rejeitada pelo governador Geraldo Alckmin), de proibir pessoas de andar na garupa de motos, para diminuir os assaltos. É matar o doente para curar a doença.

Segundo Campos Machado, seu projeto de lei "revolucionará o mercado paulista e será referência para todo o país".

Aí, estou de acordo com o deputado. A lei será uma revolução: vai tornar São Paulo, cidade com carência de parques e lazer, ainda mais inabitável, além de dificultar a socialização dos cidadãos e exterminar a histórica vida boêmia da cidade e de todo o Estado.

Quanto a virar "referência em todo o país", Campos Machado está certo. No Brasil, ideia ruim espalha mais rápido do que vírus da dengue.