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Nina Horta

Comida ambulante

Na rua Augusta tinha alguém que fazia uvas carameladas, o caramelo fino, que nunca mais vi

Uma vez estávamos arrumando uma festa e a florista perguntou se não havia uma comidinha pronta para ela comer pois estava com fome. Me lembrei de arroz, curry de frango, mangas... Sugeri.

"O quê?", espantou-se ela. "Ficou louca? Que comida é essa? Frango com manga? Arroz grudento e frango com manga? Nem morta!"

Atualmente, poucos anos depois, acho que ela acharia a ideia bem normal. Passeamos pelo mundo como se ele fosse inteiramente nosso. Asinhas de frango com molho agridoce e fatias salgadas de manga verde? Que venha o touro!

E salada de abacate com rabanete e tempurá de cebola? Rabanete? Pois está na moda de novo. Antigamente comia-se muito rabanete, eu me lembro, minha mãe só afastava a casca vermelha como pétalas, cortava o miolo branco em quatro sem chegar até o fim, e ficava aquela flor para se comer com sal. Depois sumiu e voltou à carga no último semestre. Não é engraçado? "La donna è móbile..."

Fico vendo aquelas tailandesas de chapéu de palha e carrinhos lindos com rodas enormes. Sobre eles elas administram uma grande variedade de comidas. Meu irmão Arthur, que foi o idealizador e fundador, com Maria Helena, sua mulher, de vários restaurantes de São Paulo, todos de grande sucesso, vivia suspirando por um carrinho que ele fecharia com estrondo no minuto que quisesse. Já pensaram que delícia? Nada de problemas, choveu, fechou, gripou, fechou. Acabou a comida, fechou. Pá, só bater a tampa do carrinho. E volta para casa na bicicleta com a loja na dianteira...

Aqui o costume de comida de rua vai diminuindo a cada dia. E vamos ficando com medo de comer alguma coisa estragada, melhor ir para casa e fazer um miojo. No caminho há uma leve possibilidade de cruzar com um cachorro-quente em bom pão e uma salsicha estalando. Uma fatia enorme de melancia ilegal. E o que mais? "Bijoux", bijus. Não os do Norte, que também são maravilhosos, mas aqueles que agora são vendidos no sinal, uns enrolados de massinha fina que se desmancham ao toque. Coisa finíssima. Antes o cara do biju percorria as ruas batendo uma matraca que o anunciava. Acabada a compra havia uma roleta onde a criança apostava um número. Se ganhasse, ele devolvia o dinheiro com cara de choro.

Na rua Augusta tinha alguém que fazia uvas carameladas, o caramelo fino, que nunca mais vi. E castanhas assadas em Paris? E as enguias inteiras, defumadas, em Amsterdã, quando é preciso dobrar a cabeça para trás para comê-las de jeito?

Sorvete de carrocinha, pamonha. Institucionalizados e que não causam estranheza, aqui no Brasil, o pastel de feira, a tapioca, a cuia de tacacá. E agora, nas praias do Rio, os vendedores de mate, limonada e biscoitos de polvilho foram considerados patrimônio histórico, como as baianas do acarajé.

Tudo isso só para contar que no dia 6 de maio, ótimos cozinheiros vão estar na rua, no Minhocão, vendendo comida. Das oito da noite às oito da manhã. E madrugada afora os chefs vão trazendo o que há de bom inaugurando a boa comida de rua. www.chefsnarua.com.br

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