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No clube dos cinco

Com o D.O.M., de Alex Atala, em quarto lugar, é a primeira vez que um restaurante da América Latina fica entre os cinco melhores do mundo, enquanto nenhum da França está sequer entre os dez primeiros

Olivia Harris/Reuters
ALEX ATALA chef eleito o 4º melhor do mundo
ALEX ATALA chef eleito o 4º melhor do mundo

JOSIMAR MELO
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

A divulgação na segunda-feira dos resultados do prêmio World's 50 Best Restaurants, que elege os melhores restaurantes do mundo, reafirmou sua faceta um pouco iconoclasta e provocativa. Não que seja essa a sua intenção; nem uma diretriz escrita em algum lugar; mas tem sido seu resultado visível.

Se é possível tirar uma coerência dessa lista deliberadamente incoerente é que ela valoriza chefs inventivos e ousados (Alain Ducasse ou Gordon Ramsay servem ótima comida, mas convencional; melhor René Redzepi ou Pascal Barbot); restaurantes não necessariamente luxuosos, podendo ser despojados (como um Le Chateaubriand); e cozinhas que não precisam estar presas aos ícones do Ocidente (a de Alex Atala tem uma originalidade em relação às europeias, como a de Yoshihiro Narisawa também, em relação às japonesas).

Isso explica as surpresas que o prêmio provoca. A maior delas, um restaurante da América Latina (o brasileiro D.O.M.) está ineditamente entre os cinco melhores do mundo, enquanto, por outro lado, nenhum restaurante da França está nem sequer entre os dez primeiros.

Para Atala, a revolução mora ao lado. "Daqui para frente, é abrir porta para mais chefs brasileiros e mostrar para o Brasil que a cozinha brasileira é um sonho possível", disse, durante o evento.

O número um do mundo segundo essa lista, o Noma, não tem a cotação máxima (três estrelas) no guia "Michelin", nem o número três, o restaurante Mugaritz.

Além disso, o World's 50 Best tem o atrevimento de colocar restaurantes mais do que consagrados e estrelados na rabeira (ou fora) da lista, enquanto lugares pequenos, novos, às vezes irreverentes e estranhos, galgam posições.

De tudo isso fica a impressão de que os premiados não são exatamente os melhores. Mas que são, sem dúvida, os mais promissores, mais ousados e mais influentes neste momento.

Reside aí a graça (e também certa fraqueza) do prêmio. Não se trata de um guia de restaurantes, que busca precisão e coerência em seus julgamentos. Trata-se de uma lista que apenas soma a opinião de algumas centenas de gourmets mundo afora.

Nesse sentido, unicamente reflete a opinião de certas pessoas que, por outro lado, são um pouco a nata dos produtores e consumidores do ramo (jornalistas, donos e chefs de restaurantes, gourmets amadores).

QUAL É A SUA LISTA?

A missão dessas pessoas é viajar pelo mundo, sem destino fixo (não há critérios nem listas de restaurantes predeterminadas), munidos apenas por seu faro e sua vontade inesgotável de conhecer ou, de preferência, descobrir o que se faz de melhor.

Essa horda de jurados é volúvel e mutante. Se hoje se aventura a uma demorada viagem a Copenhagen para saber quem é esse maluco dinamarquês do Noma, ontem trocava Paris pela Espanha para conhecer o estranho catalão da Costa Brava. Assim como, amanhã, poderá se internar no norte brasileiro como numa viela na China somente para descobrir novas sensações gustativas.

Aí está uma diferença com o estabelecido: enquanto os grandes guias tradicionais tendem a consagrar somente o que já é consagrado (depois de anos observando a consistência do lugar), a lista dos 50 melhores do mundo tende mais a farejar tendências -que logo mais, possivelmente, se consagrarão.

Todos? E nessa exata ordem? Eu, pessoalmente -como jurado e dirigente do júri- acho que não. Minha lista pessoal não bate exatamente com a lista acabada, e isso acontece há anos.

Mas, de uma forma geral, eu me identifico com ela. O que não significa, de resto, que seja "a melhor": cada guia ou lista tem sua utilidade, basta conhecer seu estilo para poder bem utilizá-lo.

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