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França quer obrigar legenda em cardápios

Restaurantes terão de informar aos clientes se o prato é congelado, enlatado ou foi feito com ingredientes frescos

Projeto, já aprovado na Assembleia, está em discussão no Senado e pode entrar em vigor no inverno europeu

LUISA BELCHIOR
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

Ao ouvir o pedido na cozinha de uma brasserie no centro de Paris, o ajudante tira do congelador uma bandeja que vai direto ao forno. Seis minutos depois, o prato vai direto à mesa do cliente.

Se voltar ao mesmo lugar daqui a um ano, o freguês -que não viu a cena- pode ficar sabendo, pelo próprio cardápio da casa, que havia provado, na verdade, uma versão congelada da comida, comprada na indústria que vende pratos prontos a alguns restaurantes franceses.

Um projeto de lei em tramitação no Senado daquele país quer obrigar restaurantes, a partir do próximo inverno europeu, a escrever ao lado de cada opção de seus cardápios se o prato é congelado, foi feito na própria casa com produtos frescos ou é enlatado.

Tudo para "defender a refeição à francesa", de acordo com o texto do projeto. E barrar a tal indústria dos pratos prontos que, segundo dizem os franceses do setor, comprometem a gastronomia local.

"Essa lei será boa porque muitos turistas saem daqui com uma imagem negativa da comida de Paris, sobretudo porque vêm expectativas altas e se frustram", afirma o chef Jean Lesur, do Le Parais, restaurante em frente ao museu Georges Pompidou.

Donos afirmam que os pratos congelados são a única maneira de sobreviver à demanda turística de massa e os altos impostos e fiscalização da prefeitura parisiense.

"Eu não escondo que sirvo pratos congelados, mas claro que, se isso estiver no cardápio, as pessoas vão escolher só as opções frescas", afirma Patrick Lamare, gerente de uma brasserie na Boulevard de Sebástopol.

PÃES

Por outro lado, a lei pode frear a expansão dos congelados e garantir o padrão de qualidade de pratos típicos e até croissants e brioches, diz a confeiteira Marie Le Lou, da pâtisserie Le Lou Gourmand. "O croissant é tradição em Paris. Hoje vem congelado."

Há um ano, uma comissão parlamentar tenta um parecer comum do setor sobre o projeto, já aprovado em primeira instância na Assembleia e no Senado. Falta a segunda votação nas duas Casas.

Enquanto isso, quem serve pratos caseiros já procura mencionar o feito nos menus. O caso mais recorrente é o da batata frita que, quando não é congelada, vem com a descrição "frites maison" (batatas fritas feitas em casa).

"Não é preciso uma lei para isso", diz Valerie Baldran, do Manfred, brasserie de comida caseira no Marrais. "Além disso, há produtos, como as ostras, que temos de ter congelados porque a fiscalização de Paris é muito rígida", completa.

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