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Análise

Clima e solo do norte da Itália favorecem o cultivo de cereais para boas cervejas

CILENE SAORIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando se trata de gastronomia, a Itália é lembrada por sua cozinha generosa, atraente em cores e sabores especialmente entrelaçados por azeites e vinhos. E não por acaso: esse país do sul da Europa, banhado por mares de quase todos os lados e de clima ameno, tem terroir propício para muitos alimentos, incluindo as uvas de seus vinhos. Mas e suas cervejas?

É comum que as referências se deem com rótulos populares, como Nastro Azzurro, Peroni e Moretti -que, a propósito, desempenham muito bem o papel de cervejas refrescantes e acessíveis.

Entretanto, as cervejas italianas vão além dessa linha popular, e suas produções artesanais merecem atenção digna dos amantes da boa mesa. Ao norte da Itália, ao longo dos Alpes, o terroir muda sensivelmente, favorecendo o cultivo de cevada, trigo e lúpulo -matérias-primas essenciais na elaboração de cervejas- e a interseção com a cultura gastronômica do norte da Europa.

Atento à vocação da região, em meados de 1990 o italiano Teo Musso resolveu estudar profundamente a arte das cervejas e criou os primeiros rótulos da cervejaria Baladin, em meio aos vinhedos de Piemonte (berço dos vinhos Barolo)- "diretamente da 'metrópole' de Piozzo", como costuma brincar.

Ousado, sagaz e elegante, com os ventos do movimento Slow Food a seu favor, conseguiu fazer com que suas cervejas fossem consideradas boas escolhas para aqueles que não quisessem os vinhos nas refeições. Um trabalho pioneiro e árduo, que resultou no surgimento de outros tantos produtores artesanais italianos, como Birrificio del Ducato, Birrificio Grado Plato e Birrificio Italiano.

Hoje, existem em torno de 380 pequenos produtores e 4.000 restaurantes com cartas de cervejas na Itália.

Na última década, a percepção de valor das cervejas naquele país mudou radicalmente. E isso, em boa parte, se deve à criatividade e à competência técnica de seus cervejeiros, apresentando rótulos realmente excepcionais.

No entanto, a ação estratégica de se aproximar e encantar os amantes dos vinhos é igualmente relevante nesse cenário de sucesso das cervejas artesanais italianas.

Uma linguagem bem elaborada e elegante e taças apropriadas para servir e revelar o que os diferentes estilos têm de melhor são algumas das sutilezas atribuídas a esses profissionais.

No Brasil, temos a oportunidade de degustar alguns excelentes rótulos italianos e aprender boas lições na missão de revolucionar o comportamento de consumo de cervejas por aqui.

Cervejas à mesa, tal como vinhos. E é bom dizer que estamos em prumo!

CILENE SAORIN é mestre cervejeira e sommelier de cervejas

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