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Crítica Restaurante Decoração é melhor que cozinha no Ramona As entradas acertam mais do que os pratos principais; a música e a bonita vista do centro de SP são destaques JOSIMAR MELOCRÍTICO DA FOLHA Aboletar-se no último piso do Ramona e avistar a rara paisagem de belos bulevares -a frondosa avenida São Luís e o início da rua da Consolação- é um privilégio na aridez visual de São Paulo. O novo restaurante também é vistoso por dentro. A decoração saudosista, com bonitas poltronas, aparadores vintage e lambris, evoca bares antigos e dialoga com o art déco da Biblioteca Municipal, em frente. A música encanta: rock clássico num volume que permite ouvir, mas também conversar. Sim, a comida. Ela é o essencial, mas aqui não é o que mais brilha. Não por falta de inteligência -a ideia dos pratos seduz por sua descrição, mas muitos decepcionam. Se o Ramona amadurecer e entregar o que está escrito, está feito, pois a concepção da cozinha é contemporânea, de economia de elementos no prato e liberdade de combinação de produtos. Dos 13 sócios da casa, os três principais são também do clube Alberta #3 (ali ao lado): Ivan Finotti, 41, jornalista da Folha; Thea Severino, 31, designer; e Noemi Rosa, 37, empresária. O chef é o paulista Bruno Fischetti, 33, que trabalhou na Itália e na Inglaterra e, de volta ao Brasil, esteve no P.J. Clarke's de 2008 a 2011. As entradas acertam mais. Os pastéis são crocantes (recheados de carne com azeitona e ovo de codorna, de gosto caseiro, e queijo meia cura); a abobrinha grelhada com tomate-pera assado, queijo de cabra e sal de poejo é leve e estimulante; os aspargos grelhados com ovo caipira pochê e queijo pecorino trazem tudo no ponto. A couve-flor crocante ao molho oriental não é crocante, mas gostosa. Fraca é a salada com cinco tipos de tomate e pesto, mas a culpa é dos tomates: no Brasil, quase todos têm o mesmo gosto. Bons pratos principais: bucatini ao sugo de rabada (molho denso, carne desmanchando) e cavalinha inteira grelhada (em grelha mesmo) com desproporcional montanha de salada de abobrinha, rúcula selvagem, dedo-de-moça e coentro. No clima da música, o cheeeseburger de fraldinha com queijo da serra da Canastra, ovo caipira frito, maionese, alface e tomate-caqui. Mas o pão se esfacela diante do gostoso recheio. Das decepções: penne com molho ralo e excessivo de tomates (com mozarela de búfala e manjericão) e muitos tomates-pera inteiros, assados, redundantes. Buri, peixe normalmente gorduroso, mas aqui seco, em crosta de castanha de baru (servido com purê de mandioquinha e acelga chinesa). O ossobuco de porco ao molho roti, abóbora-cabochã assada e pimenta-biquinho é quase incomível de tão duro. E a sobremesa autointitulada "simplesmente o melhor pudim de leite de todos os tempos" é simplesmente uma bomba de açúcar. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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