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Too much

Comprar tomate requer mais atenção do que nunca. Por quase R$ 5 o quilo, ele registra a maior alta dos últimos dez anos em São Paulo; além disso, há uma queda da qualidade da hortaliça, de acordo com comerciantes e cozinheiros

LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO

"O tomate tem luz própria", escreveu o chileno Pablo Neruda (1904-1973) no poema "Oda al Tomate". Celebrou a hortaliça como "astro da terra" e "estrela fecunda".

Os brasileiros compartilham essa devoção revelada pelo poeta. Está em saladas, acompanha massas, compõe sanduíches etc. etc.

Mas, por aqui, anda caro ter esse "astro" à mesa. Em 2012, a região metropolitana de São Paulo registrou a maior elevação do preço do tomate nos últimos dez anos. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve alta acumulada de 77,2% ao longo deste ano. Em média, o quilo sai por R$ 4,90.

Os problemas vão além dos preços altos. Para cozinheiros, comerciantes e pesquisadores, o tomate enfrenta uma queda de qualidade no país.

É "too much". Que Neruda perdoe a tolice do trocadilho: a expressão em inglês, que significa "demais", tem som semelhante ao da hortaliça, tema desta reportagem.

SENSÍVEL

"Em julho, houve até 200% de aumento no preço do tomate em alguns pontos de venda", diz o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas.

Em levantamento em sete municípios, São Paulo entre eles, o Ibre também identificou alta expressiva, 83,28%, entre janeiro e agosto.

Segundo o instituto, foi o produto que mais contribuiu para a inflação acumulada do ano, em 5,24%.

Esse aumento é surpreendente durante o inverno, que costuma ser favorável à produção do tomate. A variação de preços é recorrente no verão, quando a hortaliça fica mais sensível ao clima.

Uma das razões da queda da oferta -e o consequente aumento de preço- foi o atípico início do inverno, com chuvas sem trégua nas regiões de cultivo.

"Excesso de umidade ou seca muito grande derrubam a produção", diz o agrônomo Paulo César Tavares de Melo, da Esalq (USP), um dos maiores especialistas brasileiros na hortaliça. "Junho foi o mês mais chuvoso no Sudeste dos últimos 65 anos, o que estimula a incidência de pragas e doenças", explica.

Se vivesse nos dias de hoje no Brasil e frequentasse as feiras paulistanas, Neruda pensaria duas vezes antes de escrever sua ode ao tomate.

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