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Crítica Livro

Com humor, guia comenta 195 restaurantes "ogros" em SP

DO CRÍTICO DA FOLHA

HÁ VELHOS CLÁSSICOS QUE NÃO PODEM SER ESQUECIDOS, COMO A GALINHADA DO BAHIA. SÓ POR ENTRONIZAR LUGARES ASSIM, O GUIA JÁ SE JUSTIFICA

O "Guia da Culinária Ogra", do jornalista André Barcinski (colunista da Folha), cumpre duas funções importantes. A primeira é entregar o que promete: uma relação comentada de restaurantes despretensiosos -na comida e no preço.

É algo que uma cidade como São Paulo tem em relativa abundância, uma verdadeira necessidade até mesmo no dia a dia, mas que justamente por não se destacar muito da média, não tem a mesma visibilidade dos locais mais festejados.

Por ter o hábito (e o gosto) de circular por botecos e lugares simples, Barcinski selecionou 195 endereços que estão entre os seus preferidos. Nem todos são tão simples -o Dona Onça tem uma produção sofisticadíssima de massas frescas, o Mocotó faz seu escondidinho num forno combinado importado.

Mas há também velhos clássicos menos sofisticados (mas saborosos) que não podem ser esquecidos, como o Guanabara, o Salada Record, o Galinhada do Bahia. Só por entronizar lugares assim, o guia já se justifica.

"SEM FRESCURA"?

A segunda qualidade do livro é desmistificar um pouco aquilo que, na aparência, seria seu objeto, uma tal de "comida sem frescura". Como se a comida sofisticada, trabalhada, fruto de pesquisa e apuro técnico, fosse artigo supérfluo de "frescos".

Barcinski mostra de cara que, se fosse assim, ele seria um ogro tão fresco quanto um príncipe encantado, quando já avisa, nas primeiras páginas, que consegue "ver beleza numa coxinha de dois reais e num prato de 200". Ou seja, para ele o que conta é a qualidade -de um prato simples ou de um sofisticado.

De resto, o livro é cheio de bom humor. Começando pelos "mandamentos dos templos ogros", que pontifica regras como a de que um restaurante assim não pode ter no nome as palavras "chez" nem "bistrô" (mas não deve ter sido por isso que foi esquecido o Chez Rose, único boteco português com sotaque francês do Brasil).

Aliás, no capítulo de divergências, eu não conseguiria incluir o filé cheio de queijos e boiando num ralo molho inglês do Caverna Bugre entre os "musts" de qualquer cozinha, ogra ou não; nem acho que a feijoada (light!!) do Ugues mereça nobre menção.

Mas vai ver Barcinski tampouco recomendaria (ou pelo menos, não menciona), por exemplo, o pernil do Gouveia, instituição familiar que completa 70 anos: faz parte, e discordando a gente se entende.

O importante é que a valiosa relação de livro foi feita por alguém que aprecia sem preconceitos um "prato de R$ 200", e que por isso mesmo tem critérios para dar todo o valor também ao bom PF da esquina. Não basta ser ogro, se for um ogro de mau gosto e sem paladar não aproveitará com a devida voracidade os tantos pés-sujos honestos da cidade.

(JOSIMAR MELO)

GUIA DA CULINÁRIA OGRA

AUTOR André Barcisnki
EDITORA Planeta
PREÇO R$ 22,90
AVALIAÇÃO bom
LANÇAMENTO amanhã, dia 20, às 19h, na livraria Martins Fontes (avenida Paulista, 509, tel. 0/xx/11/2167-9900)

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