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Nina Horta

Desafios de um bufê

As festeiras não têm obrigação de correr atrás de inovações desse tamanho, acontece que são curiosas

Em matéria de encomendas, num bufê, vocês, cozinheiros estudantes, que ainda estão escolhendo o que fazer, todo cuidado é pouco!

Nem pensem que vão poder se dedicar a cozinhar aquilo de que mais gostam e que querem fazer, como num restaurante de autor.

O telefone toca:

"Quero uma festa coreana". Quer? Beeem... Mas quando o pedido é esse, ok. Vai ficando difícil à medida que surgem combinações. Nos cem anos do Japão-Brasil, tínhamos que misturar as duas culturas, como o Nobu mistura a japonesa com a peruana.

Não foi fácil, mas era um desafio, que deu bastante alegria. Acontece que não dá para viver só de desafios. Com a nova onda de comida brasileira, quando as pessoas estão matando a saudade de feijoadas, picadinhos, pernis de porco, mandioca, farinha, estamos felizes como passarinhos.

É também muito bom tentar fazer ainda melhor uma comida que sabemos que todos gostam, que comem com o prazer do costume, e mesmo com o prazer da novidade mesclada com lembranças.

O problema do étnico é amenizado pela compra de livros na internet. Antes que a pessoa desligue, você já pode ter em mãos a receita de um kimchi coreano. Se a noiva é de origem judaica e o noivo, indiano, pasmem, mas é só apertar o botãozinho do Google e lá aparece um livro de comida indo-judaica. Ou da Síria ou do sul da China...

Na verdade, as festeiras não têm obrigação nenhuma de correr atrás de inovações desse tamanho, acontece que são curiosas e embarcam em todas as novidades com alma de criança. Corremos o risco, com tanta novidade, de não fazer nada bem, cabe a nós próprios colocar o limite. "Ah, você é armênia? Sua avó vem para o casamento? Então que venha aqui nos ensinar esse frango, teremos o maior prazer."

E não é que a avó vem mesmo, felicíssima, contribuir para o casamento do neto e escapar daquelas visitas de Kombi que a família lhe proporciona todos os dias no afã de divertir a família que chegou 15 dias antes e que não fala uma palavra de português? E vem numa simpatia sem fim cozinhar o que mais sabe para o filho, para o neto. Aliás, como são simpáticos os armênios!

Já tivemos aqui canadenses ensinando bolos quentes para tomar com sorvete, cubanos recriando comidas salgadas com abacates, colombianos, mexicanos, noruegueses, suecos, uma bênção!

Dizemos, aflitos: "Chega, devagar com a louça, não é festa típica. Aproveitemos a comida que sabemos fazer aqui, enriquecida com um toque da Galápagos, está bem?"

Porque não acredito que assim, da primeira vez, sem conhecer a cultura, sem conhecer o país, você consiga copiar uma receita tim-tim por tim-tim. Pensa que copia, mas não copia. É a hora de servir, o jeito, o lugar que aquela comida toma na sequência dos pratos... Estiliza-se. Tocamos no assunto com sutileza.

Aumenta o espectro, ficamos mais sabidos, com mais técnicas, utensílios, cresce a criatividade, mas já experimentaram arroz, feijão e farofa, bife e salada fora de casa? Dá até vontade de rir. Alguma coisa vai estar supinamente errada.

ninahorta@uol.com.br

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