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Vinhos - Alexandra Corvo

O prazer de beber sem altas viagens

Hoje eu não vou trabalhar

Às vezes nos esquecemos da bagunça deliciosa que se organiza em volta de uma garrafa de vinho

Como sommelière, minha carreira inteira -seja nos restaurantes, seja nos textos, seja na minha escola -está baseada em explicar e ensinar como combinar melhor os vinhos e as comidas.

E, sim, nós, sommeliers, achamos vinho para tudo. É só seguir a equação. Você considera a textura da comida, a intensidade de sabores, os tipos de aromas e, "voilà!", você pode começar a pensar no estilo de seu vinho. Isso considerando seus taninos, acidez, corpo e aromas.

Conhecendo um pouco a lógica da harmonização, você encontra vinhos para todos os tipos de pratos. De foie gras a pizza. Sim, para feijoada e moqueca também! Há sempre um vinho que se encaixa, como uma peça de quebra-cabeça, na sua comida favorita.

Só que tem um fator que altera tudo e, de repente, a equação não fecha: seus amigos. Na hora de pensar em uma combinação de prato e vinho, muitas vezes nos esquecemos que, em 99,9999% dos casos, vamos comer e beber com gente que amamos. Disse aqui amigos, mas pode ser alguém da família, o seu amor, quem for... Sim, às vezes nós, sommeliers, somos matemáticos gustativo-obsessivos e parecemos "nerds" da harmonização. Esquecemo-nos da bagunça deliciosa que se organiza em volta de uma garrafa de vinho.

E isso muda essa matemática que pregamos. Ela deixa de ser importante. Na maioria das vezes, simplesmente queremos tomar um vinho que achamos gostoso.

E queremos tomá-lo a grandes goles, entre risadas descontroladas, música alta e luz baixa. Queremos comer um petisco e não queremos raciocinar. Ou queremos um banquete sem ter que recalcular.

E, aí, queridos leitores, eu me retiro e tiro meu chapéu. Afinal de contas, o vinho, melhor amigo da comida nas minhas equações, deixa de ser matéria exata e passa a ser humana. Então, hoje, não vou trabalhar. Porque não quero atrapalhar. Peguem suas garrafas, abram seus petiscos e esqueçam que estou aqui.

NA PRÓXIMA SEMANA, NO "COMIDA"
Sady Homrich

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