São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2011

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Chefs criam manifesto da 'cozinha engajada'

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA, EM LIMA

Enquanto em Lima, na manhã do dia 10, milhares de pessoas lotavam a feira Mistura, num hotel da cidade oito dos mais prestigiados chefs do mundo, diante de uns poucos jornalistas convidados, começavam a debater o que poderia ser uma carta de princípios para a profissão.
Foi um começo hesitante, mostrando posturas bem diferentes de cada um desses membros do chamado G9, conselho assessor da escola Basque Culinary Center, composto por Ferran Adrià, René Redzepi, Michel Bras, Massimo Bottura, Alex Atala, Dan Barber, Gastón Acurio, Yukio Hattori e Heston Blumenthal.
Diferenças que não apareceram no documento final, chamado "Carta Aberta aos Cozinheiros de Amanhã", onde são defendidos, sem precisão, princípios de boas intenções em relação a quatro áreas: a natureza, a sociedade, o saber e os "valores".
Neste último item, o chamado à defesa do planeta, dos produtos e da formação da sociedade torna-se ainda mais genérico, pois termina conclamando a que o cozinheiro "guie-se por seus princípios éticos e seus valores".
O que poderia ser um documento apenas bem-intencionado, mas insípido, ganha força não na "Carta Aberta" em si, mas na sua introdução.
Com sua autoridade, esses chefs assinaram que "a cozinha é mais do que a resposta humana à necessidade de se alimentar, é mais do que a busca da felicidade", sonhando com cozinheiros "comprometidos, conscientes e responsáveis de sua contribuição a uma sociedade justa, solidária e sustentável".
Em suma, um chamado à militância e ao engajamento social, que não é nada óbvio -para muitos, não é inerente à profissão, mas opção individual de cada cidadão.
No dia seguinte, quando o documento foi divulgado, a não unanimidade ficou evidente, em respostas a diferentes questões apresentadas.
Por exemplo, enquanto Barber mirava longe, contra as empresas de sementes transgênicas, Bras e Bottura miravam diretamente o prato, definindo a profissão como um gesto de entrega do belo, da paixão.
Não precisam ser coisas contraditórias, mas há evidentes diferenças de foco. O fato de todos terem assinado um mesmo chamado ao engajamento mostra que ganha espaço a visão de que o ofício não se resume à poesia.


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