São Paulo, quinta-feira, 23 de junho de 2011

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FOGO ALTO A visão de quem cozinha

ANDRÉ MIFANO

Com a cabeça na cozinha


Quem tenta falar comigo tem a impressão de que está conversando com alguém que não está lá

TODO COZINHEIRO é meio pirado.
Também pudera. É um cara que escolheu, ou como eu, não teve escolha, uma profissão na qual se passa mais de 12 horas por dia em pé, em um lugar quente, esfumaçado, com outros gritando o tempo todo.
Uma profissão onde fim de semana e feriados são palavras quase sem significado e que a pressão de se superar a todo instante se torna só mais uma parte do seu dia.
Não posso falar por todos os cozinheiros, mas certamente posso falar por mim. Na verdade, cozinhar é exatamente o que me mantém são.
Já tentou conversar com um chef fora da cozinha? Se foi comigo, muito provavelmente deve ter tido a impressão de que estava conversando com alguém que não estava lá.
E isso é meio verdade. A cabeça do chef está sempre na cozinha, mesmo que o corpo não esteja.
Fora da cozinha, nos sentimos deslocados, quase como se estivéssemos em um lugar proibido.
Somos animais que andam em grupo, estamos sempre juntos. Costumo dizer que, a partir do dia em que entramos na cozinha profissional, algo em nós muda e passamos a ser pessoas diferentes do resto da população. Meio loucos, no caso.
Loucos por sabores, por texturas, por cores e, principalmente, por desafios. E acho que é por isso que eu topei escrever esta coluna.
Todo mês vou contar um pouco do que acontece na cozinha e na vida de quem prepara comida.
As histórias, as brincadeiras, os "dramas" e os sabores que habitam a cozinha de um restaurante.
Assim, aos poucos, todos vão começar a nos entender. E, talvez, não fiquem chateados quando, no meio de uma conversa, dissermos algo do tipo: "Claro! Faltava farinha!".
Este é um dos maiores desafios da minha vida, estou lisonjeado e assustado, mas confiante que talvez um pouco dessa loucura dos cozinheiros possa contagiar a todos.
E que a paixão pela comida, acima de tudo, passe a ser uma constante na vida de todos vocês assim como é na nossa. Afinal, a única coisa que importa mesmo nessa historia toda é a comida. Certo?

ANDRÉ MIFANO é sócio e chef do restaurante Vito (rua Pascoal Vita, 329, Vila Beatriz, São Paulo)


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