São Paulo, domingo, 15 de outubro de 2006

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Tom sobre tom

Gosto e uso determinam cor do ambiente

Evento realizado na cidade de São Paulo sugere diversificar paleta da cozinha, tradicional reduto do branco

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao descer do elevador, um salto no escuro hall do apartamento do marchand Marcus Vieira, 40, é um convite à claustrofobia. Aberta a porta, o breu é atenuado pela pouca luz que entra pela varanda e chega após percorrer o corredor preto.
Na sala de estar, a cor domina chão, tapetes, sofás e mesas, compondo um fundo para a exposição de obras de arte.
A vedete é a sala de jantar: tacos enegrecidos por tinta a óleo, cortinas de voile (tecido leve e fino) negro, cadeiras de couro preto e quadros escuros.
Para Vieira, que também é chef, a cor, que delimita a área social do apartamento, estimula a introspecção e aguça os sentidos ao degustar um prato.
"Dizem que preto traz azar, mas me sinto protegido", conta ele, que tem uma casa branca em Belo Horizonte (MG).
Já a sala de estar do produtor de cinema Marcelo Caetano, 24, acumula funções: estudar e receber amigos, atividades favorecidas pelo laranja dominante, que é energizante.
Um pôster de filme inspirou-o a pintar uma das paredes com a cor, refletida no estofado de um sofá, em almofadas, num vaso e numa luminária.
As demais paredes são brancas, e os móveis, de madeira. "É dose suficiente de laranja para me manter acordado ao ler ou ver filmes e para acolher visitas sem irritá-las", descreve.

Fogo adocicado
A jornalista Roberta Vieira, 33, adotava o vermelho em unhas, cabelo, bolsa e carro quando viu a obra "Desvio para o Vermelho", do artista plástico carioca Cildo Meireles. Foi o mote para tingir a sala de seu apartamento com a cor.
O ex-namorado, incomodado, mudou-se -o vermelho é dispersivo e contra-indicado para escritórios e áreas de estudo. Já as amigas usam a sala como estúdio para fotos pessoais.
"O vermelho é algo forte, você ama ou odeia. As pessoas que gostam costumam mastigá-lo e engolir o fogo adocicado", justifica Vieira, parafraseando a escritora Clarice Lispector.
Já os tons de verde são neutros -estão no meio da escala cujos extremos são o azul, frio, e o vermelho, quente- e foram a escolha para o quarto da jornalista Sueli Pereira, 51, que se baseou em cromoterapia.
"É a cor da saúde. Li que dá um bom sono e que cura."
Seu marido, Roberto Pereira, 42, vendedor de produtos ambientais, diz achar bonitos os ecos da cor pelo quarto quando o sol bate ali. "O verde se contrapõe ao cinza da cidade."
O azul embala o sono de Chiara, de dois meses. Sua mãe, a publicitária Heloisa Pires, 42, elegeu-o para acalmar o bebê.
Segundo o professor da FAU-USP João Carlos Cesar, a cor é mesmo "passiva e sossegada, até depressiva". Por isso é paradoxal que culturalmente esteja associada aos meninos.
Na hora de escolher a cor que dará o tom da decoração do lar, confluem pinceladas físicas, biológicas, históricas, culturais e emocionais. "Se alguém me pedisse um escritório em uma cor só, eu brigaria, mas, em casa, a pessoa deve fazer como se sentir bem", analisa Cesar.

Cozinha
A imaculada aura de limpeza torna o branco quase um padrão para cozinhas, mas Cesar lembra que sua impessoalidade não combina com o local. Tons quentes, como rosa e pêssego, são opções mais acolhedoras.
"Porém é difícil encontrar mobiliário e eletrodomésticos coloridos para cozinha", diz.
Por isso, o CBC (Comitê Brasileiro de Cores) lança amanhã o projeto Colorindo a Cozinha, que incentiva os fabricantes a pigmentarem seus produtos.
"Vamos mostrar possíveis usos de cores nesse cômodo", diz a presidente do CBC, Elisabeth Wey, 56. (DF)

Colorindo a Cozinha


Quando: de 16/10 a 30/11, em sete endereços Informações: www.colorindo acozinha.com.br


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