São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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Materiais nobres retirados em reformas são vendidos para lojas ou demolidoras, reduzindo gastos com pedreiros e caçambas

Entulho que vira dinheiro

BRUNA MARTINS FONTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Engana-se quem pensa que a caçamba é o único destino do entulho de uma reforma e que livrar-se dele traz apenas prejuízos.
De olho em materiais como azulejos, esquadrias e tijolos, demolidoras e lojas de materiais usados se oferecem para retirá-los de graça e até para comprá-los.
Esse é, por exemplo, o caso do azulejo. Depósitos de peças fora de linha removem o material da parede sem cobrar pelo serviço e pagam de R$ 3 a R$ 20 por metro quadrado do que retirarem intacto.
"Economiza o gasto com o pedreiro", diz o arquiteto Gustavo Calazans, 30, que lança mão desse expediente em reformas.
Segundo empreiteiros, um dia de trabalho de um pedreiro vale de R$ 35 a R$ 50.
Demolidoras também gostam de fazer negócio. Avaliam e compram tijolos, esquadrias e portões, especialmente os de ferro ou de madeiras nobres. Mas, se a intenção é pôr tudo abaixo, algumas empresas fazem o serviço de graça se o imóvel possuir vários artigos de valor.

Cotação
Os itens mais procurados para revenda são portas e janelas de madeiras nobres (como o pinho-de-riga, o cedro, a peroba e a cabreúva), portões de ferro trabalhado e tijolos maciços com mais de 24 cm de comprimento.
Esquadrias de alumínio e vitrais também são valorizados. Janelas e portas de madeiras nobres geralmente são adquiridas pelos revendedores por R$ 100, mas uma porta feita com o disputado pinho-de-riga é comprada por até R$ 500. Portões de ferro podem atingir de R$ 100 a R$ 500.
"Um vitral com desenho bonito, bem-feito, vale de R$ 100 a R$ 600", ilustra Eli de Oliveira Ferreira, 44, vendedor da loja de materiais usados Como Antigamente. Os preços variam de acordo com o estado de conservação das peças.
Tijolos de demolição (maciços, com comprimento que varia de 24 cm a 28 cm) também interessam aos revendedores, mas em grandes quantidades. O milheiro vale de R$ 80 a R$ 200.
Antes da venda, porém, demolidores fazem as contas. Se a distância encarecer demais o frete ou a quantidade for muito pequena, eles não fecham negócio.

Em baixa
Os materiais menos procurados pelos fãs do estilo rústico ou retrô não têm muito valor de troca. Isso acontece com telhas, tacos e louças sanitárias.
Apesar de serem descartados em grandes quantidades, tacos e telhas não interessam aos revendedores porque seus clientes geralmente procuram poucas unidades para reposição.
"Compro mais de 4.000 peças, mas vendo de 10 a 50 de cada vez", explica Maria Augusta Pereira, 44, proprietária do Museu das Telhas, que só adquire material para reposição de seu estoque.
Mas nem tudo está perdido pa- ra o que não interessa aos revendedores. "Dá para negociar com os pedreiros ou fazer permutas com outros clientes", sugere o arquiteto André Moral, 29.
Calazans conta ter economizado quatro caçambas ao distribuir 10 mil tijolos para duas outras obras em que trabalha. Cada viagem de caçamba custa, em média, R$ 80. "O entulho ainda pode ser usado para encher laje", diz.


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