São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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FEIRA

Equipamentos para controlar o tempo do banho e a vazão de água em torneiras estão entre as criações expostas na Febrace

Projetos fecham o ralo para o desperdício

BRUNA MARTINS FONTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Usar a tecnologia para poupar o ambiente foi a tônica das inovações voltadas para a casa na Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), realizada de 10 a 12 de março na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
As propostas para habitação, feitas por estudantes de nível médio de todo o país, foram além da teoria e mostraram pé no chão para entrar em casa. Projetos apresentaram um lar que identifica o morador e traduz suas preferências, regula o tempo do banho e possui lixeira que só se abre para metais, entre outros inventos.
Evitar o desperdício no banheiro foi a preocupação predominante dos estudantes, que mostraram dois protótipos inéditos para economizar água.
No banho, o temporizador de chuveiros, idealizado por alunos da Escola Técnica Professor Everardo Passos, de São José dos Campos (SP), recebe o comando do tempo desejado para o banho e liga ou desliga a água de acordo com o que detectam os sensores.
Na pia, a invenção de Pedro Bôa Nova, da Escola Técnica de Volta Redonda (RJ), agrega um controlador manual de vazão a torneiras automáticas acionadas com sensor de presença.
"Assim, pode-se regular a quantidade de água para ser usada e diminuir o fluxo em épocas de racionamento", explica Bôa Nova.
As iniciativas são consideradas inéditas. Já há, no exterior, chuveiros com sensores que interrompem o banho por limite de tempo ou ao detectar o afastamento. No Brasil, esse chuveiro está em fase de desenvolvimento pela Deca. "Nenhum modelo traz a possibilidade de controlar o tempo de banho livremente", comenta Fábio Camurri, 35, engenheiro de aplicação da Deca.
Na linha de torneiras, ele conta que não conhece nenhum tipo de regulador manual de fluxo. "A princípio, não vejo muita vantagem, porque, em casa, as pessoas usam a mesma quantidade de água para lavar as mãos ou escovar os dentes", diz.

Reúso
Outra saída para diminuir o consumo de água foram dois esquemas para reusar, no vaso sanitário, a água do chuveiro ou a da pia. Mas, antes de aplicá-los, é preciso cuidado, segundo Márcio Augusto Araújo, 40, consultor do Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica).
"A água do banho tem material orgânico, que pede tratamento químico para não se acumular nas paredes do reservatório. A da pia é menos complicada."
Para a arquiteta Roberta Mülfarth, 33, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da USP, antes de colocar esses produtos no mercado, é preciso contar com uma boa conscientização. "Será que as pessoas aceitariam ter uma água usada no vaso sanitário?"
Outros resíduos (os industriais) foram reutilizados para dar forma a materiais de construção.
Estudantes do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) agregaram lama (resíduo de marmorarias) em peças de cerâmica, que ficaram mais resistentes do que as tradicionais.
Já os alunos da Escola Técnica do Paraná usaram embalagens de defensivos agrícolas para substituir a brita em itens de concreto.
"Além da tríplice lavagem [procedimento de limpeza para embalagens de conteúdos tóxicos], deve-se fazer outra, mais apurada, na peça, para saber se não solta contaminantes", sugere Araújo.


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