São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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COMUNHÃO PARCIAL

Arquitetos e decoradores desenvolvem idéias para que ele e ela tenham seu espaço privativo na casa

Casais repartem a cama, mas não o banheiro

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quem casa quer casa. E de preferência com banheiros individuais. Essa é uma das conclusões a que chegou a primeira pesquisa via internet do Nomads (Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de Vida) da EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo).
A importância da individualidade dos membros de um casal ficou provada nos números iniciais do levantamento "Comportamentos & Espaços de Morar". As opiniões divergiram segundo a região do país, mas no Sul e no Nordeste a defesa da individualidade foi quase unânime (98,36% e 98,04%, respectivamente).
Outro dado interessante é que o uso de closets e armários individuais -ou de ambientes separados de trabalho para os cônjuges- é atraente para mais da metade dos entrevistados (52,34%).
Não foi por acaso que a decoradora Bya Barros criou para o seu espaço na última edição paulista da Casa Cor boxes para ele e para ela, assim como espaços separados de bacia sanitária e pia.
Para Barros, o grande atrativo é que o usuário do banheiro individual pode tudo em seu território. Ela afirma que, além da questão de privacidade, há a necessidade de ambos terem um lugar para a correria matinal, o que antes não era necessário, já que a mulher podia esperar o marido sair.

Sobrevivência
Para alguns casais, privacidade é questão de sobrevivência. Esse é o lema de Gilberto, 43, e Débora, 33, que preferem omitir os sobrenomes: "Você não bagunça o meu, e eu não limpo o seu", diz ela, que está reformando os banheiros.
Segundo o arquiteto William Simonato, a decisão é excelente. "Evita aquela situação de não poder se trancar por muito tempo sem incomodar o outro."
"Depois de 17 anos juntos, a convivência pode ser irritante", confirma a enfermeira Michele Pires, 40. "Eu tropeçava nos sapatos dele dentro do closet, e ele queria fazer a barba enquanto eu tomava banho. Nossa vida era um tal de vai você que depois eu vou."
Eles encomendaram um closet com banheiro para cada um. "Essa solução colabora para perpetuar nosso relacionamento", diz.

Quarto anti-separação
Pensando nisso, a arquiteta Bela Gebara desenhou para a suíte de sua casa uma cuba a mais do lado de fora do banheiro. Criou ainda duas estações de trabalho: uma porta de correr ajuda a não atrapalhar quem está dormindo.
Mais radical, uma área de 35 m2 foi equipada com duas camas de 1,4 m de largura (uma delas fica de "stand by" para os dias de briga).
É uma espécie de "quarto anti-separação" onde basta ativar a porta e tudo se acerta, pelo menos até a poeira baixar. É o que pretende a decoradora Solange Medina, autora da proposta, presente na edição 2002 da Casa Cor Rio.
Ela conta que a TV foi instalada sobre trilhos motorizados que, acionados por controle remoto, se deslocam lateralmente. O lado da mulher tem ainda ligação com o quarto das filhas, o que -sabe-se lá por quê- pouparia o pai nas horas de choro ou mamadeira.
A decoradora Angela Maluf já havia experimentado algo parecido na Casa Inteligente, que foi erguida em agosto deste ano no interior do Expo Center Norte (SP). As funções massageadora e de posição das camas eram acionadas por controles independentes.
Mas, segundo a decoradora Maria Ruth Cyrillo Brauen, outros casais vêem no banheiro uma ótima chance para manter a intimidade, conversar e relaxar. Para eles, a solução tem sido um box com dois chuveiros, duas cubas e duas bacias. (NATHALIA BARBOZA)


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