São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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Produto reciclado e de baixo impacto ambiental também evita danos à saúde

Primeira obra pública sustentável do país começa a ser construída em março

Casa sustentável não derruba ambiente

BRUNA MARTINS FONTES
EDITORA-ASSISTENTE DE CONSTRUÇÃO E IMÓVEIS

Se tentarmos mapear o caminho que percorrem os materiais que usamos para construir ou reformar uma casa, o quadro traçado será, no mínimo, preocupante.
No nascedouro, veremos que a indústria da construção civil é a que mais retira matérias-primas da natureza. No meio do trajeto, encontraremos produtos nocivos à saúde de quem convive com eles entre quatro paredes. Por fim, descobriremos que o volume de entulho gerado em São Paulo é o dobro do de lixo doméstico.
Mesmo assim, nem o ambientalista mais ferrenho há de engavetar suas plantas, porque é possível erguer uma casa sem demolir o ambiente -e isso não tem nada a ver com construí-la no meio do mato. O caminho é a construção sustentável, que não engloba só a escolha de materiais de baixo impacto ambiental mas também de tecnologias que permitam à casa funcionar sem exaurir os recursos naturais, como água e energia.
A construção sustentável abraça também produtos e conceitos ecológicos, mas não se resume a eles. "Todo produto ecológico é sustentável, mas nem tudo que é sustentável é ecológico", estrutura Márcio Araújo, consultor do Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica).
Um exemplo de sustentável que não é ecológico são os produtos reciclados, como telhas de embalagens longa vida e conduítes de embalagens de agrotóxicos desintoxicadas (veja quadro abaixo).
"Uma obra em meio urbano deveria usar reciclados. O uso desses materiais mostra que somos responsáveis pelo que consumimos", completa Araújo.
Até o cimento e os plásticos, que nada têm de ecológicos, podem ganhar uma faceta sustentável. É o caso do cimento CP 3, produzido com resíduos da indústria siderúrgica. Os plásticos "do bem" são os que podem passar por reciclagem e não são nocivos à saúde.

Lojas e obras "verdes"
Já há uma boa gama de produtos sustentáveis que podem substituir os convencionais, da estrutura ao acabamento. No entanto, eles não são vendidos nas lojas de materiais de construção.
"É preciso rodar muito para achar todos os produtos", analisa Vanessa Gomes da Silva, 34, uma das fundadoras do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e professora do curso de pós-graduação em construção sustentável da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A boa notícia é que encontrar esses materiais e tecnologias está ficando cada vez menos difícil. Em São Paulo, há três lojas especializadas em produtos sustentáveis. São o Espaço Casa Ecológica, a Primamatéria e a Supergreen (confira telefones no quadro).
Outro exemplo de que é possível construir usando materiais e tecnologias sustentáveis é que recentemente saiu o vencedor da primeira licitação no Brasil para uma obra pública sustentável -a construção começará em março.
Será o laboratório de pesquisas da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas (MG), e o edital, feito sob supervisão do Idhea, exige itens como concreto com cimento CP 3, fôrmas de plástico em vez das de madeira, impermeabilizante vegetal, tijolos de solo-cimento e pintura mineral.

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