São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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Produto com solvente libera composto que afeta cabeça, rins, fígado e olhos

Dois fabricantes já vendem em SP tintas saudáveis, à base de terra ou de minerais

Tintas e vernizes deixam perigo no ar

DA REDAÇÃO

De todos os elementos de uma construção saudável, o ar parece ser o mais abstrato, especialmente porque as ameaças à nossa saúde, nesse caso, não estão à vista. São os compostos orgânicos voláteis.
Também chamados de COVs, essas substâncias "evaporam" de muitos itens, como tintas, vernizes, produtos de limpeza, carpetes, colas e impressoras.
Teimosos, persistem no ar por bastante tempo. O problema se agrava em ambientes fechados, porque o convívio com os COVs irrita os olhos, o nariz e a garganta e causa dor de cabeça, náusea, danos ao sistema nervoso, ao fígado e aos rins, além de agravar rinite alérgica e asma.
"Os COVs afetam mais a saúde do morador do que o ambiente", concorda Kai Loh Uemoto, especialista em tintas e pesquisadora da Escola Politécnica da USP. "Daí a importância do assunto, especialmente nos debates sobre a "síndrome do edifício doente", que não se limita apenas aos problemas causados pelo ar-condicionado", completa.

Tintas
Como os COVs estão mais concentrados nos ambientes fechados do que nos abertos, um meio de zelar pela qualidade do ar interno é adotar tintas, colas e protetores de madeira menos nocivos. No caso das tintas, não há como fugir deles nas prateleiras das lojas de materiais de construção.
"As látex vêm sendo aprimoradas para reduzir o nível de COVs, mas continuam tendo 2% desses compostos", diz Jorge Fazenda, 68, assessor técnico da Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas).
Todos os solventes usados nas tintas (exceto a água) são considerados compostos orgânicos voláteis. Sua função é suavizar a viscosidade para facilitar a aplicação e manter a secagem homogênea. Enquanto a tinta seca, os COVs são liberados no ambiente.
Ainda não é possível saber, pelas embalagens dos produtos, qual é a quantidade de compostos que cada um tem. Mas Fazenda fornece uma pista: "Quanto mais brilho a tinta possui, mais solvente foi usado, portanto a presença de COVs é maior do que nas que não têm brilho".
Afirmar que uma tinta tem baixo odor não significa que esteja isenta de COVs. Há casos, por exemplo, em que tintas são feitas com solventes desodorizados.
Outro componente nocivo que pode ser encontrado em algumas tintas é o chumbo, que prejudica o fígado e o sistema nervoso central. "Isso ocorre em algumas cores de alguns produtos, como amarelos e verdes, em esmaltes e tintas a óleo, nunca nas à base de água", esclarece Fazenda.
Para combater o problema, há um projeto de lei, ainda em tramitação na Câmara dos Deputados, que fixa em 0,06% o nível máximo de chumbo nas tintas. "Um esmalte sintético pode ter 7%, 8% de chumbo, quantidade muito elevada", diz Fazenda.

Sem COVs
A boa notícia é que, no setor de tintas, já há dois fabricantes de produtos naturais, isentos de COVs. A Primamatéria produz uma tinta à base de terra (e que leva apenas uma pequena quantidade de cola PVA), e o Espaço Ecológica tem duas opções, minerais (leia mais no quadro acima).
Mas não é só a parede que pede cuidados. Para proteger a madeira do piso, o mais indicado é abrir mão de vernizes, que têm COVs, e adotar ceras e resinas que não contenham esses elementos.
Isso significa adotar receitas mais naturais. "A mistura de cera de carnaúba com óleo de linhaça é muito boa", sugere Araújo.
"Óleos e resinas vegetais penetram na madeira, não formam apenas uma película externa. Por isso se adaptam aos movimentos dela e o revestimento não sofre fissuras nem precisa ser lixado na manutenção", diz Luis Baleriola, gerente da Ecoquimia, fabricante espanhola de produtos naturais.

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