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Prensado em fôrmas ou como tijolo, barro dá bom conforto termoacústico
Material não é queimado, por isso não polui o ar como blocos e tijolos cozidos
Terra sai do chão e vai para a parede
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A matéria-prima não é nova:
a terra vem sendo usada para
fazer moradias desde a Pré-História. Mesmo assim, até hoje não
há material mais saudável para
erguer uma parede.
A terra crua leva a vantagem de
não ser poluente, não consumir
energia na produção e ter baixo
custo, enquanto tijolos cozidos e
blocos cerâmicos e de concreto
demandam bastante energia para
serem produzidos e poluem o ar
com emissões de gás carbônico.
Os especialistas apontam outras
vantagens consideráveis na construção com terra: o bom isolamento térmico e acústico do ambiente, o caráter de não-propagação do fogo e a alta resistência.
A crise energética e as discussões sobre os efeitos da poluição
do ar vêm estimulando estudos
sobre novas técnicas para a aplicação do barro na construção civil. Mas, no Brasil, a técnica não
reconquistou a popularidade dos
tempos coloniais.
"É uma questão cultural. No
atual contexto de consumismo,
todos sonham em poder comprar
produtos comercializados nas lojas", opina Akemi Ino, coordenadora do Habis (Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade), da Escola de Engenharia de
São Carlos da Universidade de
São Paulo (EESC-USP).
Técnicas de construção
Ao contrário do que muitos
pensam, é possível construir uma
casa de terra com as mesmas qualidade e aparência das que utilizaram tijolos ou blocos.
"As pessoas partem do princípio de que o objetivo de construir
com terra é economizar. Isso está
errado. A maior motivação é ser
sustentável", diz o arquiteto Paulo
Montoro, entusiasta da técnica e
dono de um sobrado construído
em taipa de pilão (terra socada
com pilão dentro de fôrmas).
Entre as técnicas mais utilizadas
na construção com terra, estão o
adobe (veja como é feito no quadro acima), a taipa de pilão, o tijolo prensado e a taipa de mão.
Na taipa de pilão, uma mistura
de terra é apiloada em camadas
em uma fôrma tipo sanduíche,
tornando-se um bloco monolítico, que será a parede. Na taipa de
mão, o barro é estruturado em armações de bambu.
Para fazer tijolo prensado, a terra é compactada em uma prensa
(manual ou não) e colocada para
secar na sombra.
Custo
Segundo Montoro, o preço da
construção depende do sistema
utilizado. "Pouca gente conhece
as técnicas, é preciso encontrar o
tipo de terra certo, há muitas variáveis. Isso tudo pode até encarecer a obra", alerta o arquiteto.
"A terra é de graça. Dependendo do método e com mutirão na
construção, o custo pode ser zero", defende o engenheiro Edmilson Federzoni, embora ele admita
que a mão-de-obra é fator encarecedor. "É rara em São Paulo."
Outra coisa que encarece esse tipo de construção é a indisponibilidade de terra de qualidade. Isso
obrigaria o empreiteiro a "importá-la" (e gastar com o transporte)
ou incrementá-la com aditivos,
como cal, areia e até soro de leite.
Federzoni está capitaneando o
projeto da Ecovila Clareando, na
cidade de Piracaia (90 km de São
Paulo), que prevê a construção de
80 a 85 residências que deverão
seguir as diretrizes de sustentabilidade da Agenda 21 mundial
(usar materiais ecologicamente
corretos, de preferência produzidos nas redondezas).
O local deverá comportar casas
de vários padrões, afirma. "Estamos montando uma equipe que
veio de uma cidade do interior da
Bahia, onde todas as casas são de
adobe, para fazer os tijolos para
nós. Então, o custo será somente o
da mão-de-obra nesse quesito",
conta Federzoni.
Os preços finais vão variar de
projeto para projeto, mas, de maneira geral, ele acredita que acabarão ficando inferiores aos das casas convencionais. "Os materiais
que realmente influenciam o custo final de uma obra são os acabamentos. Tentaremos fazer uma
otimização desses itens."
(RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO)
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