São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMBIENTE

Com o aumento no número de consumidores "verdes", há mais fabricantes, o que pressiona os valores para baixo

Procura abate preço da madeira certificada

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Parede com tijolos de solo e cimento na casa de André Sobanski


FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quem trabalha com madeira certificada afirma que, como há mais empresas atuando no ramo, o preço não deve demorar a cair.
"Há três anos havia seis empresas certificadas, e hoje são quase cem", contabiliza Nagib Orro, sócio-proprietário da Orro & Christensen, que faz móveis com madeiras certificadas.
Para Fabio de Albuquerque, da Ecolog, a conscientização do consumidor é vital para pressionar a queda dos preços. "A madeira é mais cara porque a demanda é maior do que a produção."
De acordo com dados do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), o consumo de madeira certificada no Estado de São Paulo é de 1,2 milhão de metros cúbicos ou 20% do total que vai para as obras.
"O preço só vai cair quando os clientes procurarem mais esse tipo de material, puxando um aumento no número de produtores", conclui Albuquerque.

Decoração
Na esteira da discussão sobre a madeira, a decoração também sai mais cara quando a preocupação ecológica entra em jogo.
A Valcucine, por exemplo, importa mobiliário italiano, feito de madeira de áreas de manejo florestal e de materiais recicláveis (como alumínio e vidro). As madeiras não são tratadas com produtos químicos, e sim com óleo, tinturas naturais e cera de abelha.
Uma de suas linhas de cozinhas é feita com cerca de 84% a 90% de material reciclável. O diretor Luiz Roberto Guimarães, 35, afirma que os projetos são mais caros porque toda a produção que preserva o ambiente é custosa.
Mas nem tudo o que é verde deve ser caro. O carpete feito com amido de milho, por exemplo, sai por um preço 10% menor do que o de sua versão em náilon, segundo o fabricante Interface.
Por esse caminho também vai o tijolo de solo e cimento (feito de terra, cimento e areia). "Por ser modular e auto-encaixável, colabora para uma obra limpa, com pouco desperdício", ressalta Márcio Augusto Araújo, consultor do Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica).
E, para banir de vez o amianto da cobertura, as telhas ganham novos materiais. Dois que já estão sendo usados são tubos de pasta de dente e embalagens de leite longa vida reciclados.
Já o arquiteto Guilherme Wiedman testou em sua tese de doutorado a viabilidade de fazer telhas com fibras de coco. Aprovadas em testes no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), elas estão em fase de viabilização comercial.
"A fibra é bonita e recebe muito bem acabamentos como outras madeiras, além de a telha ter alta resistência", comenta o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Carlos Zibel, 58.

Na prática
O engenheiro André Rubini Sobanski, 41, usou vários desses materiais novos. Em sua nova casa, paredes foram feitas com tijolos de solo e cimento, telhas e forros de material reciclado e madeiras como o cumaru e a muracatiara.
"É difícil separar o joio do trigo quando se procura materiais alternativos. Procurei consultoria [do Idhea]", revela o engenheiro.
Na hora de fazer as contas, ele avalia que o mais caro foi instalar um sistema de tratamento de água (R$ 5.000) e que, apesar de ser mais caro, o tijolo de solo e cimento rendeu economia de material e mão-de-obra. "Pude gastar o que economizei com o tijolo em outros cômodos, mas, se a casa fosse mais ecológica, sairia mais cara." (BRUNA MARTINS FONTES)


Texto Anterior: Ambiente: Material ecológico não devasta orçamento
Próximo Texto: Preservação ambiental começa na prancheta
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.