São Paulo, domingo, 01 de março de 2009



Obama implanta agenda para mudar rumo dos EUA

LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

História não se avalia a quente, mas a semana que passou nos EUA tem boa chance de ir parar em livros, salas de aulas e discursos políticos futuros. Em um espaço de quatro dias, Barack Obama mostrou a que veio e pôs em curso a agenda de governo mais ousada da história recente (no mínimo) dos EUA.
Se havia dúvida de que ele buscaria um governo de fato progressista -e para citar Joe, o Encanador, era um redistribuidor de riquezas-, a resposta veio sutil como uma avalanche.
O presidente abriu alas com o discurso ao Congresso, quando pediu confiança a legisladores e eleitores, requisitou sacrifícios e preveniu que medidas impopulares eram precisas para salvar a economia -mas prometeu que os pacotes de custos astronômicos visavam "ajudar pessoas", não bancos.
Dois dias depois, ao propor seu Orçamento, aumentou os impostos para os 2% mais ricos da população e inverteu prioridades, contendo a escalada de gastos com defesa e ampliando a verba para saúde e educação, além de privilegiar ambiente. Tudo sob o espectro da pior crise econômica em sete décadas.
Com isso, rompeu não só com a gestão do antecessor, mas com quase 30 anos de política fiscal conservadora, iniciada em 1981 com o enterro do "governo grande" por Ronald Reagan e perpetuada por todos os que vieram desde então.
Terminou a semana catártica marcando para 2011 a saída do último soldado americano do Iraque -o fim oficial da guerra iniciada a falso pretexto em 2003 por Bush- e anunciando a quase-estatização do que já foi o maior banco do país, o Citibank, que agora tem 36% de seu capital na mão do governo.
Tudo, há de se lembrar, em um país cujo espectro político pende à direita e onde menções a um maior papel do Estado são vistas com temor e censura.
Com sua aprovação em 67%, capital político para levar a cabo essa agenda Obama tem -é preciso ainda persuadir o Congresso. Quanto à viabilidade de tanta ousadia, os EUA estão pagando para ver. Trilhões.


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