São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

Bush aprova socorro e crise seca crédito no país

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A um mês da eleição nos EUA, o presidente George W. Bush conseguiu aprovar o pacote de socorro ao sistema financeiro, cuja implementação seguirá a cargo de seu sucessor e que deve se transformar no mais novo e duradouro foco de incertezas dos mercados.
Incerteza essa que remonta à questão mais antiga da economia, motivo de paixões e intrigas, que é o preço.
Quanto vale hoje uma dívida original de 20 anos de US$ 1 milhão, que financiou uma casa que já custou esse valor, mas que não tem comprador nem por US$ 800 mil e o mutuário -desempregado e ilegal no país- já pagou US$ 60 mil? Se tivesse comprador no mercado -não há, por isso o sistema financeiro precisa do Tesouro-, essa dívida hoje seria de US$ 750 mil, menos do que a casa.
Se o Tesouro pagar US$ 1 milhão, dará um prêmio ao banco imprudente, que já perdeu os juros de 20 anos da dívida. Se der só os US$ 750 mil, só terá resolvido o problema de caixa do banco, que já assumiu US$ 400 mil de prejuízo contábil. Ou seja, o preço deverá ser algo entre esses dois mundos.
O mais provável é que o Tesouro faça leilões por lotes de dívidas de risco semelhante. Mas como classificá-los? E como será a execução de hipotecas (que ficará mais branda) e as cobranças que permitirão diminuir o prejuízo do Tesouro?
São questões para a próxima fase da crise. Etapa que coincidirá com os efeitos na economia real que começam sempre com consumo e renda menores, queda nos preços de commodities, desemprego e fome.
No Brasil, as incertezas travaram o mercado de crédito na semana passada, que trabalhou com taxas altíssimas e prazos curtos. Na dúvida, bancos preferiram não emprestar mesmo para empresas grandes.
Para reverter a paralisia no crédito, que pegou em cheio os bancos pequenos, o Banco Central flexibilizou pela segunda vez os compulsórios para os bancos que comprarem créditos de instituições menores.
Na semana que terminou exatamente no ponto que começou, com a votação do pacote na Câmara dos EUA, a Bolsa de Nova York perdeu 7,34% e a Bovespa, 4,28%. O dólar subiu 10% e voltou a R$ 2,046, após disparar 30% em dois meses.


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