São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009


Congresso oficializa "farra de passagens"

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


A crise que fustiga o Legislativo parece não ter fim, e as medidas anunciadas para rebater a onda de revelações escabrosas só fizeram piorar o quadro.
Na quinta, após um mês e meio de revelações quase diárias, Senado e Câmara anunciaram pacote de regulamentações para o mais novo item da pauta de escândalos: o uso desenfreado da cota de passagens aéreas a que os congressistas têm direito. Houve de tudo. O deputado Fábio Faria (PMN-RN) pagou viagens para a então namorada Adriane Galisteu, mandou a então sogra para Miami e fez um "trem da alegria" de artistas para Carnaval fora de época em Natal. Tudo por conta da Câmara. Seu colega Inocêncio Oliveira (PR-PE) mandou mulher, filhas e neta para EUA e Europa. Sua justificativa: "A família é sagrada".
Outro ex-presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), emitiu bilhetes para si e a família para Bariloche. A cota aérea na Câmara custa algo como R$ 80 milhões anuais; o Senado não divulga seu gasto.
Para evitar uma sangria ainda maior em sua imagem, o Congresso então anunciou cortes em valores e oficializou a farra: cônjuges, dependentes e assessores podem usar passagens de deputados e senadores (no caso do Senado, filhos também). Os valores de quem não usa a cota podem continuar a ser acumulados -como no caso de ministros do governo Lula que eram deputados e usaram sua verba antiga.
Assim, o Legislativo deu um tiro no pé e jogou mais água no moinho daqueles que aproveitam momentos de crise para insinuar absurdos como o fechamento do Congresso -como se a instituição tivesse de pagar pelos atos de seus membros.
A crise atual começou quando a Folha revelou que o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, escondia da Justiça a posse de uma casa avaliada em R$ 5 milhões. Maia caiu, e estabeleceu-se uma luta para dominar a máquina de benesses da Casa, com um orçamento de R$ 2,7 bilhões anuais.
Nesse tipo de disputa, segredos vêm à tona, e uma vez abertas, as caixas de Pandora tendem a se multiplicar pelo trabalho da imprensa e de órgãos como o Ministério Público.
O processo saiu do controle e contaminou a Câmara, que se vê agora engolfada. A primeira reação foi desastrada, resta ver agora qual será o próximo passo. E a próxima revelação.


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