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Congresso oficializa "farra de passagens"
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise que fustiga o Legislativo parece não ter fim, e as medidas anunciadas para rebater a
onda de revelações escabrosas
só fizeram piorar o quadro.
Na quinta, após um mês e
meio de revelações quase diárias, Senado e Câmara anunciaram pacote de regulamentações para o mais novo item da
pauta de escândalos: o uso desenfreado da cota de passagens
aéreas a que os congressistas
têm direito. Houve de tudo. O
deputado Fábio Faria (PMN-RN) pagou viagens para a então
namorada Adriane Galisteu,
mandou a então sogra para
Miami e fez um "trem da alegria" de artistas para Carnaval
fora de época em Natal. Tudo
por conta da Câmara. Seu colega Inocêncio Oliveira (PR-PE)
mandou mulher, filhas e neta
para EUA e Europa. Sua justificativa: "A família é sagrada".
Outro ex-presidente da Casa,
João Paulo Cunha (PT-SP),
emitiu bilhetes para si e a família para Bariloche. A cota aérea
na Câmara custa algo como R$
80 milhões anuais; o Senado
não divulga seu gasto.
Para evitar uma sangria ainda maior em sua imagem, o
Congresso então anunciou cortes em valores e oficializou a
farra: cônjuges, dependentes e
assessores podem usar passagens de deputados e senadores
(no caso do Senado, filhos também). Os valores de quem não
usa a cota podem continuar a
ser acumulados -como no caso
de ministros do governo Lula
que eram deputados e usaram
sua verba antiga.
Assim, o Legislativo deu um
tiro no pé e jogou mais água no
moinho daqueles que aproveitam momentos de crise para insinuar absurdos como o fechamento do Congresso -como se
a instituição tivesse de pagar
pelos atos de seus membros.
A crise atual começou quando a Folha revelou que o diretor-geral do Senado, Agaciel
Maia, escondia da Justiça a
posse de uma casa avaliada em
R$ 5 milhões. Maia caiu, e estabeleceu-se uma luta para dominar a máquina de benesses
da Casa, com um orçamento de
R$ 2,7 bilhões anuais.
Nesse tipo de disputa, segredos vêm à tona, e uma vez abertas, as caixas de Pandora tendem a se multiplicar pelo trabalho da imprensa e de órgãos
como o Ministério Público.
O processo saiu do controle e
contaminou a Câmara, que se
vê agora engolfada. A primeira
reação foi desastrada, resta ver
agora qual será o próximo passo. E a próxima revelação.
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