São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

Confronto entre policiais civis e PM marca greve em SP

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um confronto inédito entre Polícia Militar e Polícia Civil de São Paulo marcou uma semana em que uma situação de tensão, cujo pivô é a greve de policiais civis, evidencia o risco de misturar disputas políticas de um lado, resistência em negociar de outro, com consequências ainda imprevisíveis pela frente.
Desde o início do ano, as entidades da Polícia Civil vêm tentando recuperar o que classificam de perdas acumuladas durante mais de uma década sem aumentos, o que deixou delegados paulistas na situação de ter um dos menores salários pagos à categoria no país. Um delegado em início de carreira ganha R$ 3.708,18.
Se as entidades da Polícia Civil fazem reivindicações consideradas irrealistas, o governo José Serra (PSDB) não aceitou negociar sem que a greve fosse suspensa, o que abriu espaço para que políticos se aproveitassem do conflito para tentar obter dividendos eleitorais.
A primeira justificativa para o governo tachar a greve como política veio de um panfleto distribuído no início do ano. O documento conclamava os policiais a se mobilizar porque, em ano eleitoral, o governo estaria mais fragilizado para enfrentar uma categoria com alta capilaridade em todo o Estado.
As entidades dos policiais civis decidiram iniciar a greve a duas semanas do primeiro turno da eleição. O governo paulista, acreditando que a paralisação se esvaziaria aos poucos, suspendeu as negociações. Tampouco recebia interlocutores ou se posicionava via imprensa. Os policiais resistiram.
O governo, então, aumentou a proposta para reajustes de em média 6% aos policiais, que querem 15% já e mais duas parcelas de 12% nos próximos dois anos. O Estado diz não ter recursos, estimando o custo do reajuste pedido em até R$ 3 bilhões, e afirma temer que a arrecadação caia em 2009 devido aos efeitos da crise mundial.
A oposição ao governo estadual decidiu encampar o movimento, que passou a contar com a presença de sindicalistas da CUT, ligada ao PT, e da Força Sindical, vinculada ao PDT. Surgem reivindicações como a demissão do secretário da Segurança e eleição direta do delegado-geral, que invadem uma área de competência exclusiva do governador e contribuem para politizar as manifestações.
Em meio à confusão, ficaram os policiais civis e militares que promoveram a batalha campal em que se transformou o protesto de quinta-feira, com um saldo de 29 feridos -e feridas que custarão a cicatrizar.

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