São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

BC acelera aperto no juro e surpreende mercado

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A previsibilidade da política de juros do Banco Central ficou para trás na semana passada. Contrariando as expectativas, o BC de Henrique Meirelles decidiu acelerar o ritmo do aumento de juros para segurar a inflação: elevou, em uma só tacada de 0,75 ponto percentual, a taxa básica brasileira de 12,25% para 13%. Até então, os aumentos eram de 0,5 em 0,5 ponto.
Foi o bastante para o mercado fazer quatro considerações, que levam a uma mudança completa na alocação de investimentos até o final do ano: 1) o BC vê um repasse maior dos aumentos de preços do atacado para o varejo; 2) novos aumentos de juros virão e a taxa pode terminar o ano em 15% (a previsão anterior era de 14,25%); 3) o foco agora é colocar a inflação de 2009 dentro da meta de 4,5% (porque neste ano deverá ficar em 6,53%); 4) o BC ganhou cacife político de Lula para "fazer o que precisa ser feito" mesmo em um ano de eleição.
Nos mercados, o Brasil já é visto como o país mais agressivo no combate à inflação mundial por meio do aumento de juros. Começou a elevar as taxas ainda em dezembro, quando havia dúvidas se a inflação era uma ameaça global. Criticado à época, a receita foi depois seguida em toda América Latina, Europa e agora na Ásia. Só não pegou nos EUA, que estão mais preocupados com a crise.
Aumentos de juros costumam ser duramente criticados porque retiram de circulação dinheiro que poderia ser investido para movimentar a economia. Dessa vez, o coro contra a decisão do BC foi menor, reunindo o ceticismo de empresários e de sindicalistas.
Com juros de 13%, o Brasil paga 10,5 pontos acima dos 2,5% da remuneração dos títulos da dívida americana e passa a atrair mais capital do exterior. Alguns analistas vêem a possibilidade de o dólar testar novos pisos, rumo ao patamar de R$ 1,50. Não há consenso sobre isso porque o dólar está muito baixo e sai dinheiro da Bolsa.
O consenso até agora é que os investimentos em fundos DI e nos CDBs ficaram mais atraentes e as perspectivas para a Bolsa ficaram ainda piores, especialmente no cenário de crise internacional. Poucas ações são capazes de render mais do que os 15% que os juros previstos para o final deste ano.


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