São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008


Chuvas e falta de planejamento fazem vítimas em SC

JÚLIO VERÍSSIMO
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA

Luana Sofia Eger, 3, Larissa Sabrina da Conceição, 8, Miguel Nascimento, 73, Valeria Dickman, 63, são alguns dos mais de cem mortos na tragédia que atingiu Santa Catarina desde o último dia 22, quando fortes chuvas desabaram sobre o Estado. A lista da Defesa Civil estampa também nomes de famílias inteiras, a maioria morta em soterramentos.
As cidades próximas ao rio Itajaí-Açu foram as mais prejudicadas pelos temporais. O rio subiu mais de 15 metros e isolou muitos municípios.
Mais de 78 mil estão desalojados ou desabrigados. Em Ilhota, um terço dos 12 mil habitantes perdeu a casa. No Estado, cerca de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas pelas inundações. Rodovias federais e estaduais foram bloqueadas. A enxurrada varreu encostas, morros e soterrou casas. Oficialmente, há 19 desaparecidos. Mas, em algumas localidades, a Defesa Civil local estima em centenas o número de flagelados que ainda não deram sinal de vida.
Num primeiro momento, as autoridades do Estado atribuíram a culpa às mudanças climáticas e ao excesso de chuvas. Mas, segundo especialistas, as principais causas do caos são conhecidas e recorrentes: ocupação desordenada das encostas e dos morros, desmate da vegetação nativa, falta de mapeamento de áreas de risco e ausência de estudos do solo antes de construir.
Blumenau, por exemplo, ficou submersa mais uma vez. A cidade, inclusive, tem histórico em contabilizar mortes e desolação desde a época do império.
Na litorânea Itajaí, afora os mortos e desabrigados, sobreviventes desesperados saquearam supermercados. Nem casas abandonadas escaparam, muitas delas já destruídas.
Proprietários permaneciam nos destroços do imóvel na tentativa de impedir o furto do que sobrou. Foi decretada uma espécie de "toque de recolher", para impedir novas ações.
O reflexo da chuva atingiu outro Estado. O Rio Grande do Sul está com o fornecimento de gás interrompido após a explosão de um gasoduto na região de Gaspar (SC).
Agora, como das outras vezes, começa o trabalho de reconstrução. Pouco adiantará a distribuição de recursos -a União liberou R$ 1,6 bilhão para os Estados afetados pelas chuvas, pois Espírito Santo e Rio de Janeiro também contam com desabrigados- se não se levar em conta a questão climática no novo planejamento.
Do contrário, listas com nomes de mortos, como Luana, Larissa, Miguel e Valéria, continuarão sendo divulgadas ao fim de cada dilúvio. Santa Catarina: Estado de calamidade.


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