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Bate-estaca no bufê

Vizinhos declaram 'guerra' contra a música eletrônica, que anima as badaladas festas de um dos bufês mais tradicionais de São Paulo

ROBERTO DE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

O corpo vibra, as janelas tremem, a cabeça reverbera. Difícil é pegar no sono.

São sensações assim que vizinhos do Buffet França, em São Paulo, descrevem encarar nos dias em que rolam os principais eventos naquele que é considerado um dos espaços festivos mais requintados e tradicionais do país.

Na tentativa de baixar o som que vara a madrugada, moradores de Higienópolis (região central de São Paulo), vizinhos do bufê, criaram o movimento chamado "antitum-tum-tum do França".

Geralmente, o bate-estaca começa após o jantar. "Para nós, é um jantar sem digestão", diz Marcia Pastore, 47, artista plástica, que organiza o abaixo-assinado, pedindo ao bufê que tome providências antirruído.

O maestro Daniel Cornejo, 44, lembra que já perdeu a conta das vezes que ligou para lá pedindo para diminuírem o volume. No dia 8 de novembro, registrou reclamação no Psiu. O órgão informa que, desde 2006, recebeu apenas quatro reclamações.

Três vistorias foram feitas no local, em diferentes horários. Em nenhuma delas foi detectado ruído acima do permitido, segundo o Psiu.

Uma nova visita ao França deve ser feita neste mês.

Para os vizinhos, isso não quer dizer que a barulheira do bufê não seja incômoda.

CERA NO OUVIDO

Moradora da Angélica há mais de 20 anos, a agrônoma Sônia Santana Martins, 55, apela para a cera nos ouvidos na tentativa de amenizar o ruído e, quem sabe, dormir.

O quarto dela fica de frente para o bufê. O sistema de exaustão do ar-condicionado do França faz uma barulheira que lembra "um caminhão ligado no ponto morto", nas palavras da agrônoma.

"Só que o caminhão, em determinado momento, vai embora. Aqui, o barulho fica atordoando a noite inteira."

Sônia ligou inúmeras vezes para o França. Chegou a reclamar pessoalmente ao gerente. Fez mais: levou-o ao seu apartamento para que ele confirmasse o barulho.

"Os funcionários são gentis", faz questão de frisar. "O dono me contou que ergueria um muro de três metros para tentar conter o som", lembra. Segundo ela, as medidas são apenas paliativas. "Nada de concreto que resolva de uma vez por todas o problema."

Bem atrás do bufê, na rua São Vicente de Paula, a soprano Patrícia Endo, 47, tem um apartamento. "Estamos pensando em vender o imóvel", conta. "Ficar lá nos fins de semana é insuportável."

O som grave, que se propaga facilmente, entra pela estrutura do prédio e reverbera dentro do corpo. "Para piorar, nosso quarto é voltado para o bufê, o que complica ainda mais as coisas", diz.

Em dias de festa, o trânsito na Angélica fica caótico, segundo os moradores. Convidados entram com o carro no bufê. Lá, o manobrista assume o volante. No centro da avenida, outro funcionário chega a interromper o trânsito nos dois sentidos da Angélica para que o colega estacione do outro lado da via.

"Nesses dias, não dá para receber visitas", conta Armando Nery Signorini, 48, administrador de empresas. "Ninguém consegue parar por aqui. Perto do meu prédio, fica todo tomado."

E tome mais barulho. Desta vez, do buzinaço, que ecoa pela avenida Angélica.

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