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Captura de chefe do tráfico deixa de fora 'tropa de elite' da PM

Com integrantes suspeitos de vazar informações, Bope é excluído de operação na favela da Rocinha

Nem foi encontrado dentro de porta-malas de carro que tentava deixar Rocinha, favela da zona sul do Rio

MARCO ANTÔNIO MARTINS
DIANA BRITO
DO RIO

O traficante mais procurado do Rio, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, foi preso na madrugada de ontem sem a participação do Bope (Batalhão de Operações Especiais).

A prisão do traficante, chefe da facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), foi resultado de uma operação de inteligência com a participação da Polícia Federal.

A chamada tropa de elite da PM fluminense foi afastada da ação que capturou Nem após reuniões das cúpulas da Secretaria de Segurança e polícias Civil, Militar e Federal.

A estratégia foi motivada por um relatório da PF que narra um episódio no qual um major do Bope vende um fuzil para o traficante, conforme a Folha revelou em 4 de novembro. O major foi expulso, mas não foi aberto inquérito.

No relatório também consta que homens do Bope "vazariam" dados sobre operações à quadrilha de Nem. Até agora, nada foi provado, mas as autoridades não quiseram correr risco na ação na Rocinha.

Considerado incorruptível -imagem difundida pelos filmes "Tropa de Elite"-, o Bope disse que "não tem conhecimento de desvio de armas e que, se houver vazamento, ele será investigado".

Nem foi preso por agentes do Batalhão de Choque da PM, que pararam um Toyota Corolla na saída da Rocinha.

O motorista se identificou como cônsul honorário da República Democrática do Congo - o país não tem funcionários diplomáticos no Rio de Janeiro- e alegou imunidade para evitar a revista.

Os policias decidiram encaminhá-los para a delegacia da Gávea. No caminho, os três homens tentaram subornar os policiais. A Polícia Federal foi chamada e, ao abrir o porta-malas, encontrou Nem.

O traficante guardava consigo 59,9 mil em notas de real e 50, 5 mil em notas de euro.

Ele foi preso horas após a PF ter detido cinco traficantes, três policiais civis e dois ex-PMs que escoltavam criminosos numa tentativa de fuga.

Nem e os outros traficantes presos foram transferidos em carros blindados ontem para o presídio de Bangu, na zona oeste do Rio.

O governador Sérgio Cabral (PMDB) disse que pedirá ao Ministério da Justiça a transferência do traficante para um presídio federal.

PERFIL

Acusado ainda por sequestro e homicídio, entre outros crimes, Nem se orgulhava de jamais ter sido preso. Entrou para o tráfico por acaso, quando precisava de dinheiro para tratar um problema de saúde de uma filha.

Em 2005, chegou ao topo da hierarquia do tráfico na Rocinha. Ostentador, já teria assumido que queria deixar o crime. Segundo escutas da polícia, ele afirmou ser atormentado por sonhos de que está sendo esquartejado.

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