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Quitandinha e fiado ainda resistem nas ruas da Aclimação

No bairro do centro de São Paulo, antigas vendas de meados do século 20 sobrevivem com fregueses fiéis

Clientes mais antigos se negam a abandonar hábitos como a escolha das frutas e recebê-las na cozinha de casa

VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

"Olha, Ramiro, amanhã você separa para mim uma penca de banana mais verde. Venho pegar à tarde". Amélia Neder, 57, pega a sacola de frutas e segue a pé para casa, ali mesmo na Aclimação.
A quitanda do Ramiro Dias, 48, existe há mais de cinquenta anos na rua Almeida Torres. Não é exceção no bairro do centro de São Paulo, onde o pequeno comércio se nega a ficar obsoleto.
Talvez porque, nas quitandinhas e mercearias da Aclimação, as entregas chegam não na porta, mas na cozinha do cliente, e as compras são anotadas em cadernetas para pagar no fim do mês.
"E aqui os clientes batem papo. Supermercado não tem isso", explica Ramiro.
Ali perto, na rua Lacerda Franco, fica a mercearia Frutti Viva, do Eduardo Yamahata, 58. Foi fundada por seu pai, japonês, que aparece no fundo do estabelecimento em uma foto em branco e preto. O imigrante posa ao lado do antigo caminhão de verduras no Mercadão, quando ainda não havia Ceagesp.
"A fruta dele, não existe igual! No Natal, as cerejas são as mais doces", elogia Ignez Yara da Silveira, 73. "Faço a compra do mês por telefone, e ele põe tudo na cozinha".

JOVENS
Eduardo diz que, até os anos 1970, havia muito mais quitandas no bairro. "Os supermercados não davam bola para hortifruti. Agora melhoraram muito", lamenta.
Além disso, tem os que se mudam, fora o "problema" dos jovens. "As moças de hoje não querem saber de lavar verdura", diz Eduardo.
Na rua Pires da Mota, José Antunes, 60, ainda mói o café em uma antiga máquina que tem fama de ser a única do gênero em toda a cidade.
Segue na ativa o ventilador antigo de pás azul-metálico. As prateleira singelas deixam ver ao fundo os azulejos azuis. Ao lado dos queijos "de marca", tem castanha-do-pará, doce português, lentilha, biscoito amanteigado.
"Quando abrimos, só tinha um mercadinho perto. Agora tem o Dia, o Hirota, o Ito Mix. Isso machucou um pouco a gente", diz Antunes.
Mas a seleção de produtos de primeira, o cuidado em ter sempre na loja o que o cliente quer, garantem a permanência do lugar, afirma.
É assim, com essas e muitas outras pequenas vendas, que a Aclimação vai levando seu jeito antiguinho e amistoso, observando os novos condomínios e supermercados chegarem ao pedaço.

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