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Estado enfrenta desconfiança de morador

Após ocupação policial na Rocinha e no Vidigal, desafio é suprir assistencialismo mantido por traficantes na região

Tráfico explorava serviços clandestinos de gás, transporte e TV a cabo, além de distribuir cesta básica

DO RIO
DO ENVIADO AO RIO

Há décadas sob domínio do tráfico e aliviados com a ocupação das favelas, os moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu manifestam desconfiança em relação ao futuro e à ação do governo.
Muitos se perguntam quem vai ocupar, no dia a dia da comunidade, o espaço que traficantes como Nem mantinham na região.
Chefe do tráfico na região desde 2005, Antônio Bonfim Lopes explorava os serviços clandestinos de gás, transporte alternativo e TV a cabo.
Em cada um deles, ganhava um percentual. De acordo com um relatório da Polícia Civil, ele investia o lucro desses serviços em construção de imóveis ali mesmo.
"O primeiro passo é procurar armas e drogas. Depois a gente vai verificar o envolvimento desse criminoso com esses serviços", diz a chefe de Polícia Civil, Martha Rocha.

RECEIO
Há décadas sob o domínio do tráfico, os moradores estão receosos. Para X., moradora que pediu para não ser identificada, as coisas "antes" estavam muito bem.
"O Nem pagava o aluguel de quem precisava, dava cesta básica, ajudava creches. Quero ver o governo fazer isso."
X. conta que toda quinta chegava à Rocinha um caminhão com caixas de legumes e frutas, para distribuição aos moradores carentes.
Cássia Silva, 25, filmou a casa com o celular por precaução. "Podem entrar [a polícia], mas tem de deixar tudo no lugar."
Já Z., 45, encara a nova fase com otimismo. "É a primeira vez em 45 anos que vejo essa rua assim, tranquila. Eu descia ela inteira de carrinho de rolimã, jogava bola aí. Tomava banho em uma cachoeira aqui do lado. Hoje meus filhos não têm isso".
Ele conta que prefere levar o filho de 12 anos para passear na Barra (zona oeste), por medo. "Quem sabe agora a gente consiga voltar a fazer o lanche em família por aqui. Antes não dava, eles ficavam nos bares com fuzil na mão."
Uma senhora entregou uma carta à assessora de imprensa do Bope em que agradece pela ocupação e diz estar emocionada por não ver mais traficantes armados diante de sua janela.
Segundo o governo, a meta principal na Rocinha e no Vidigal é a regularização dos serviços básicos. Na manhã de hoje, alguns carros entrarão para coleta de lixo.
A Rioluz e o serviço de conservação irão ao local na quarta para regularizar a energia e desobstruir vias. Daqui a duas semanas, os serviços de TV a cabo devem ser regularizados, diz o governo.

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