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ANÁLISE

Pacificada, favela da Rocinha é desafio urbanístico

SÉRGIO MAGALHÃES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cidade com cem mil habitantes, topografia de encosta, carência histórica de infraestrutura sanitária, de mobilidade, de contenção geológica, moradias majoritariamente insalubres, localizada no coração da zona sul carioca, que acaba de ser libertada do jugo ditatorial: quais são os desafios urbanísticos?

Talvez possam ser classificados em categorias, de complexidade crescente: funcional, conceitual e civilizatória.

Será necessário completar as redes de água, de esgotos sanitários e pluviais. Não é tarefa simples se considerarmos a topografia, a alta densidade e o modo como as construções se justapõem.

Caminhos e acessos precários, em escadarias irregulares, estreitas, que dificultam a chegada de pessoas e de bens, precisarão ser melhorados. A mobilidade também depende do alargamento de ruas para a passagem de veículos de serviços e para que pessoas com dificuldades possam circular melhor.

Meios mecânicos precisarão ser considerados: escadas rolantes e planos inclinados. A experiência do teleférico do Complexo do Alemão, na zona norte, pode ser útil.

Obras demandarão refazer trechos urbanos, demolir casas, cujas famílias precisarão buscar novas moradias. Tampouco é tarefa singela a contenção de encostas, que provavelmente afetará mais moradias. A regularização fundiária é um desafio.

Enfim, a lista de exigências funcionais é ampla. Mas há também aspectos conceituais determinantes.

Por diversas razões, entre as quais o preconceito, não aceitamos assentamentos populares em suas morfologias diferenciadas. Tampouco oferecemos políticas públicas capazes de construir modelos urbanos idealizados.

O inegável é que nas favelas há uma vitalidade incomensurável, produtora de uma outra forma urbana, outra cidade, na busca de promover o processo de inserção social para seus moradores.

Tal cidade precisa ser reconhecida -e é um desafio de natureza conceitual para os arquitetos da urbanização. Naquela espacialidade aparentemente anárquica há dimensões sócio-culturais e urbanísticas que precisam ser valorizadas e promovidas.

O Rio tem boa experiência nesse sentido, desde o Programa Favela-Bairro, que urbanizou mais de 150 favelas. Hoje, o Programa Morar Carioca pretende urbanizar todas as favelas até 2020, constituindo-se, no dizer do prefeito, como principal legado social da Olimpíada-2016.

Manter o Estado em plena função naquele território, prestando todos os serviços públicos, será o maior dos desafios no Rio de Janeiro.

SÉRGIO MAGALHÃES, arquiteto, é presidente do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) do Rio de Janeiro; também foi secretário municipal de Habitação do Rio (1993-2000) e coordenador do programa Favela-Bairro

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