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VIOLÊNCIA
Levantamento da Secretaria da Segurança surpreende tanto defensores como contrários à redução da maioridade penal
Menor participa de 1% dos homicídios em SP
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Estatística inédita revela que é
pequena a participação de menores de 18 anos na autoria de crimes graves em São Paulo. Eles são
responsáveis por cerca de 1% dos
homicídios dolosos (com intenção) em todo o Estado. Eles também estão envolvidos em 1,5% do
total de roubos -maior motivo
de internação na Febem- e 2,6%
dos latrocínios (roubo com a
morte da vítima). De acordo com
o IBGE, essa faixa etária representa 36% da população.
Os dados, calculados com base
em ocorrências em que foi possível identificar se o criminoso era
menor ou não, surpreenderam
tanto defensores como contrários
à redução da maioridade penal.
Pesquisa feita em dezembro pelo Datafolha indicou que 84% da
população defende a redução da
maioridade penal.
Correspondentes ao período de
janeiro a outubro de 2003, os índices são oficiais e foram tabulados
pela CAP (Coordenadoria de
Análise e Planejamento), da Secretaria da Segurança Pública de
São Paulo. O levantamento contabiliza adolescentes presos em flagrante ou identificados em boletins de ocorrência.
"Esses números derrubam o
mito da periculosidade dos jovens
e mostram que a redução da
maioridade penal vai ter um impacto muito pequeno e ineficaz",
afirmou o sociólogo e doutor em
ciência polícia Túlio Kahn, coordenador-executivo da CAP.
Os índices de 2003 não tiveram
grandes alterações em relação a
2001 e a 2002. Dos 9.150 homicídios dolosos registrados de janeiro a outubro de 2003, 89 (0,97%)
tiveram envolvimento de adolescentes, segundo a CAP.
De janeiro a dezembro de 2002,
esse índice foi de 0,9% -107 casos dos 11.847 registrados. Em
2001, do total de 12.475 homicídios, 95 casos (0,8%) tiveram participação de menores.
Dos 453 latrocínios registrados
no Estado até outubro de 2003, 12
(2,6%) tiveram envolvimento de
adolescentes. Em 2001, foram 19
casos (3,4% do total) e, em 2002,
nove latrocínios (1,8%).
"Essas imagens enviesadas, de
que o jovem está envolvido com
crimes graves, podem sustentar
políticas públicas e leis que não
atacam a raiz do problema e que
podem até piorar a situação", disse o coordenador.
A participação dos adolescentes
só ultrapassa a faixa dos 10% nos
crimes de tráfico de drogas
(12,8%) e porte ilegal de arma
(14,8%), segundo a CAP.
Surpresa
O levantamento surpreendeu
até pessoas envolvidas na defesa
dos direitos da criança e do adolescente. Elas afirmaram saber
que os índices eram baixos, mas,
antes de serem informadas dos
resultados, estimaram números
acima dos verificados pela CAP.
A presidente da Amar (associação das mães de internos da Febem), Maria da Conceição Paganele dos Santos, achava que a participação dos jovens no total de
casos de homicídios correspondia
a 10% -proporção dos internos
na Febem (Fundação Estadual do
Bem-Estar do Menor) que respondem por esse crime. "Não havia estatística. Nós nos guiávamos
pelos números da Febem", disse.
Para ela, a maior parte dos internos esteve envolvida em roubo de
carros e motos. O levantamento
mostrou que jovens com menos
de 18 anos respondem em São
Paulo por 0,6% dos roubos de veículos e 0,3% dos furtos de carros.
Coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos e membro da Comissão de
Direitos Humanos da OAB-SP
(Ordem dos Advogados do Brasil), Ariel de Castro Alves também
acreditava que o envolvimento
dos adolescentes com homicídios
chegasse a 10% dos crimes.
"O índice de 1% nos casos de
homicídio mostra claramente que
os adolescentes não são os responsáveis pela violência e que a
tese da redução da maioridade
penal é ainda mais absurda do
que pensávamos", afirmou Alves.
A promotora da Infância e da
Juventude Sueli Riviera, que acreditava na estimativa de 10% de envolvimento de jovens nos casos de
homicídio, também se disse surpresa com o levantamento.
"Não tinha idéia de que o índice
era esse. O Estado tem o dever de
mostrar esses números para acabar com o estigma contra jovens
da periferia", afirmou Riviera.
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