São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

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Tecnologia detecta cola de aluno em exames nos EUA

Computadores da empresa Caveon analisam folhas de resposta para achar anomalias em exames escolares

Apesar de uso recorrente, professor da Boston College defende que métodos usados ainda são suspeitos


TRIP GABRIEL
DO "NEW YORK TIMES"

O Estado do Mississippi tinha um problema envolvendo exames escolares e tecnologia digital. Estudantes de segundo grau que faziam os exames de fim de ano no Estado estavam usando celulares para enviar mensagens de texto uns aos outros com as respostas das questões.
Com mais de 100 mil alunos fazendo exames, não era possível vigiar todos -especialmente porque alguns adolescentes conseguem digitar mensagens em seus telefones quando os aparelhos estão em seus bolsos.
Assim, o Estado procurou uma empresa que usa tecnologia para combater a cola: ela emprega computadores para analisar folhas de respostas e identificar as que contêm tantas das mesmas respostas certas ou erradas que as chances de isso ser uma ocorrência aleatória são mínimas. A explicação quase certeira envolve a cola.
A empresa em questão, a Caveon Test Security, começou a trabalhar para o Mississippi em 2006, e desde então a incidência de cola caiu cerca de 70%, disse James Mason, diretor do Escritório de Avaliação Estudantil do Departamento de Educação do Estado. "As pessoas sabem que, se colarem, as chances são muito grandes de serem flagradas", afirmou Mason.

MAIS NEGÓCIOS
Exames são usados para determinar a graduação de alunos, a admissão em escolas de pós-graduação e, na novidade mais recente, os abonos por mérito e a contratação de professores. Com o aumento de sua importância na educação, os negócios crescem para a Caveon.
Entre seus clientes estão o College Board (que produz os exames de ingresso em muitas escolas e faculdades dos EUA), o Conselho de Admissão em Escolas de Direito e mais de uma dúzia de departamentos de ensino estaduais e de grandes cidades, entre eles os da Flórida, Texas, Washington e Atlanta. Essas instituições normalmente recorrem à Caveon depois de se envolverem em um escândalo embaraçoso.
"Desde que comecei a trabalhar com exames, a incidência de fraudes vem aumentando ano a ano", disse John Fremer, 71, cofundador da Caveon e, no passado, criador-chefe de exames do SAT (teste usado como critério para admissão em universidades nos EUA).
O uso de anomalias estatísticas para expor fraudes começou há mais de um século. Em 1902, comprovou-se que James Michael Curley e um companheiro tinham copiado os exames de ingresso no funcionalismo público um do outro, porque tinham 12 erros idênticas.
De lá para cá a ciência das probabilidades avançou, e a Caveon diz que sua análise de folhas de respostas é a mais sofisticada hoje. Além de buscar casos de plágio, seus computadores procuram padrões ilógicos, como candidatos que se saíram melhor em perguntas difíceis que em perguntas fáceis. Isso pode ser indicativo de que tiveram conhecimento antecipado de parte do exame.
Os computadores também procuram casos em que um aluno ou uma classe apresentam notas muito mais altas do que tiveram em provas anteriores. E contabilizam o número de palavras apagadas em folhas de respostas, que podem ser indicativo de que professores ou administradores interferiram.
Quando as anomalias são altamente improváveis -por exemplo, nos casos em que a probabilidade de ocorrerem aleatoriamente seria inferior a um caso em 1 milhão-, a Caveon assinala os exames para serem investigados por administradores escolares.

CRÍTICAS
Embora seus estudos forenses sejam complexos, há quem critique os métodos da Caveon. Walter M. Haney, professor de pesquisas e medições educacionais no Boston College, disse que os métodos usados pela empresa para analisar dados são suspeitos, porque ainda não foram publicados em periódicos especializados.
"Simplesmente não conhecemos a precisão dos métodos e até que ponto eles podem dar falsos positivos ou falsos negativos", disse Haney, que nos anos 1990 pressionou o Serviço de Testes Educacionais, criador do SAT, a submeter a um conselho de revisão externo suas próprias fórmulas para identificar fraudadores. David Foster, executivo-chefe da Caveon, disse que a empresa não divulgou seus métodos porque está ocupada demais atendendo a seus clientes. Mas o estatístico chefe da firma se dispõe a explicar os algoritmos da Caveon a qualquer cliente curioso a esse respeito. Outros métodos empregados pela empresa para combater fraudes não são baseados em estatísticas.

PADRÃO
Os exames padronizados são questionados por alguns pais e educadores, mas não por Fremer, presidente da Caveon há anos e que recentemente deixou seu cargo executivo na empresa.
Fremer atribui a exames o fato de ter conseguido escapar de seu passado. Filho de um bombeiro de Nova York, ele recebeu um Ph.D. da Universidade de Columbia em psicologia e medição educacional. Então, foi trabalhar para o Serviço de Avaliações Educacionais. Inicialmente, trabalhou no departamento de aptidão verbal e, mais tarde, passou sete anos à frente de uma revisão do SAT.
Fremer não tem paciência com críticos para quem exames padronizados não medem a aptidão acadêmica com precisão. "Exames são uma maneira de verificar o que você sabe ou não sabe".

Tradução de CLARA ALLAIN


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