São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

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Comandante-geral da PM exibe lado filósofo em blog

Mário Sérgio Duarte, que chefiou recentes ocupações, posta sobre si e segurança

RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO

"O problema contrapôs as hipóteses de verdade em nome da crença, da episteme e da norma, todos falando a partir de um topos noetós: lugar privilegiado de conhecimento ora dogmático, ora positivista e ora legalista-normativo."
Foi assim que Mário Sérgio Duarte refletiu, numa postagem em seu blog, sobre o caso em que a Igreja Católica se opôs a que uma menina de nove anos, grávida após ser estuprada e correndo risco de vida, fizesse um aborto.
Duarte é estudante de filosofia na UFRJ e tem um blog chamado "Segurança Pública - Ideias e Ações". Ele também é comandante-geral da Polícia Militar do Rio.
Quem viu pela TV Duarte com uniforme da PM e boina do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) -do qual também já foi comandante-, liderando in loco as recentes ocupações da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, não suspeita do pendor intelectual.
A situação muda quando se lê o blog (marius-ser gius.blogspot. com). Duarte reflete, além da segurança pública, sobre si mesmo. Em outubro, em texto em que festeja a sabedoria vinda com a madureza (tem 52 anos), escreveu: "Houve um tempo em que eu me julgava bem melhor do que sou. Na juventude, as coisas nos parecem assim: se há ética, somos os mais éticos, se há moral, somos os mais morais, se há capacidades, somos os mais capazes, se há virtudes, somos sua excelência".
Como indica o nome do blog, Duarte também põe suas ideias a serviço das ações. "As ciências que dão suporte à cultura jurídica não são suficientes para que possamos fazer polícia. Se não conhecermos um pouquinho das pulsões humanas, não conseguimos entender os quadros de segurança", disse ele em seminário na Uerj sobre violência na América Latina.
O comandante considera que, tão importante quanto retomar áreas dominadas pelo tráfico e pacificá-las, é combater o que chama de "ideologia de facção". "Há uma identidade coletiva que liga os traficantes, o "é nós". Foi criado um subestado e, com ele, uma subnacionalidade. "Eu sou brasileiro, carioca, vascaíno e Comando Vermelho", dizem eles."
O próprio Duarte, por sua vez, é brasileiro, carioca, vascaíno e "caveira 37", codinome que remete ao tempo em que era membro do Bope.
O comandante tem uma eclética lista de influências. Sua relação de livros favoritos vai de Platão a Chico Xavier, passando por Oscar Wilde e Euclides da Cunha.
No post citado no início deste texto, ele conclui sua reflexão com "a convicção de que a Providência Divina dará à infortunada menina oportunidades muitas de felicidade". Talvez ele precise recorrer à fé para conciliar a agenda de comandante com a de estudante -está perto da jubilação por faltas.


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