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Serra retém verba da USP, Unesp e Unicamp
Governo não repassou integralmente o previsto com a arrecadação do ICMS de 2006 e ainda contingenciou 15% dos recursos deste ano
Universidades públicas
dizem que a medida é
inédita e vêem nas decisões
uma ameaça à autonomia
das instituições
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela primeira vez desde a obtenção da autonomia universitária, em 1989, o governo estadual paulista reteve, neste ano,
recursos destinados à USP, à
Unesp e à Unicamp.
A contenção de verbas feita
pelo governo José Serra
(PSDB) ocorreu de duas formas. Uma delas foi por meio da
suspensão do repasse mensal
para as instituições.
Em uma das suas primeiras
medidas após tomar posse, Serra determinou o contingenciamento (reter temporariamente
parte do Orçamento) de 15% do
custeio e 100% dos investimentos dos órgãos do governo.
Em contingenciamentos anteriores, inclusive no do ano
passado, as universidades não
sofreram com a medida.
A outra retenção ocorreu por
meio da diferença que deveria
ser repassada referente à arrecadação de dezembro do ICMS
(principal imposto paulista).
Mensalmente, as três escolas
recebem 9,57% da previsão da
arrecadação do ICMS. Caso o
arrecadado seja maior do que o
previsto, o governo paga a diferença no mês seguinte. Em janeiro deste ano, o dinheiro não
foi repassado integralmente.
Devido às duas ações do governo, a Unesp recebeu apenas
R$ 2,4 milhões dos R$ 12,7 milhões no último dia 22.
A instituição afirma que teve
de usar suas próprias reservas
para pagar despesas com o hospital universitário, bolsas e
aquisição de material.
Já a Unicamp recebeu R$ 5,5
milhões a menos e teve de cortar compra de materiais e a assinatura de periódicos.
A USP informou uma perda
de R$ 11,5 milhões e afirmou
que ainda avalia tal impacto.
O secretário de Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti,
disse que o contigenciamento é
pequeno e que trabalha para revertê-lo.
Para o coordenador do curso
de administração pública da
Unesp (Araraquara), Álvaro
Guedes, não há impedimento
jurídico para que o governo faça contingenciamento. "Mas é
um sinal de que o tratamento
vip às universidades irá parar."
Conselho
Outra mudança que teve impacto negativo nas universidades foi o fato de os reitores não
predominarem mais no
Cruesp, conselho que os representa. Até então, o conselho era
formado pelos três reitores,
sendo um presidente, e os secretários de Ciência e Tecnologia (ao qual às escolas eram vinculadas) e o de Educação.
Com a criação da Secretaria
do Ensino Superior, o conselho
passou a ter três secretários e
três reitores, sendo que a presidência passou para o titular da
pasta de Ensino Superior.
Uma das principais medidas
discutidas no Cruesp são os
reajustes salariais.
Ontem, Pinotti disse à Folha
que não será mais o presidente
do órgão -o posto voltará a ficar com os reitores.
Antes de saber da decisão, o
reitor da Unicamp, José Tadeu
Jorge, afirmou que "houve uma
redução da autonomia com a
perda das prerrogativas dos
reitores no Cruesp". Sobre as
medidas financeiras, ele disse:
"O contingenciamento abre
um precedente perigoso na
gestão das universidades".
Já o vice-reitor em exercício
da Unesp, Herman Jacobus
Cornelis Voorwald, concorda
que há o risco de a autonomia
ser afetada. "A mudança do
modelo de autonomia, iniciado
em 1989, coloca em risco a manutenção da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão
nas três universidades", disse.
A reitora da USP, Suely Vilela, declarou que "as mudanças
propostas pelo governo mostram pontos fundamentais que
precisam ser aperfeiçoados".
Colaborou EVANDRO SPINELLI, da Reportagem
Local
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