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"Não se deve temer dinheiro privado", afirma diretor da Faculdade de Direito
DA REPORTAGEM LOCAL
Para João Grandino Rodas,
diretor da Faculdade de Direito
da USP, doações privadas não
substituem a obrigação do governo de investir na instituição.
No cargo desde 2006, Rodas
diz também que é preciso aderir ao ensino a distância para
aumentar a abrangência da faculdade (que recebe anualmente 460 novos alunos em São
Paulo e cem no campus de Ribeirão Preto) e que, para fazer
jus ao nível de alunos que passam no vestibular da Fuvest, a
instituição precisa de mais rigor nas avaliações.
FOLHA - Quem cursou universidade pública deve recompensar o contribuinte?
JOÃO GRANDINO RODAS - Eu acho
que sim. As mensalidades das
faculdades mais simples custam R$ 800, R$ 1.000. O que sugerimos é, por ano, doação
equivalente a um mês de uma
faculdade barata de direito.
Mas há várias formas de ajudar:
com dinheiro, uma habilidade,
pondo-se a serviço. Acho que só
o fato de dar aula na universidade, com os salários universitários, a infraestrutura universitária, é uma retribuição.
FOLHA - Por outro lado, há quem
tema que a abertura para o dinheiro
privado seja um caminho para o governo se desobrigar de investimentos em universidades públicas ou
até para a privatização.
RODAS - Em primeiro lugar,
buscamos no poder público tudo o que ele possa dar. Mas não
se deve ter medo de, para atingir objetivos, buscar dinheiro
privado, desde que eles [os doadores] não tenham interferência na concepção do projeto pedagógico e de pesquisa da escola. Não é privatização. É doação
de verbas que são colocadas a
serviço público.
FOLHA - Mas o público tem acesso?
RODAS - A USP recebe cada vez
mais uma classe média menos
dotada economicamente. Não
há dados, mas nota-se claramente isso. Mas é importante
que também que se façam mais
políticas [para ampliar a inclusão]. A virtualidade vai aumentar as vagas da universidade pública brasileira no futuro.
FOLHA - E isso é bom?
RODAS - Educação semipresencial é uma tendência. Se for
bem feito, é bom. O número de
alunos a médio e longo prazo
aumentará pelas ferramentas
virtuais. Essa história de que só
se aprende numa classe não é
universal. E hoje não é um simulacro achar que os alunos
frequentam, quando muita
gente não frequenta as aulas?
FOLHA - Aqui também [muita gente não frequenta]?
RODAS - Aqui também. É simulacro. É um simulacro pensar
que o professor dá aula. Quantos professores vão lá e matam
o tempo todo?
FOLHA - Aqui também?
RODAS - Aqui também. Entendeu? Mas estamos apegados à
forma de que, se você não for
para a aula, não sentar lá e não
ouvir o professor falar... [Com
aulas por videoconferência], o
professor não poderá simplesmente chegar na sala e dizer:
"Ontem eu fui ao fórum, li uma
ação tal, e o juiz falou isso..." Ele
vai ter que preparar a aula dele.
FOLHA - Consegue-se burlar o controle de frequência na faculdade?
RODAS - Muito provavelmente,
no Brasil inteiro, em todos os
lugares, essa avaliação [de presença] acaba sendo mais pró-forma. Mesmo quando existe,
muitos dos que vão [à aula] vão
por obrigação.
FOLHA - O vestibular é justo?
RODAS - O vestibular da Fuvest
tende a escolher os melhores
alunos. Entretanto, tenho meditado: nós recebemos os melhores alunos, portanto, teríamos que fazer com que a avaliação [ao longo do curso] fosse
um pouco mais séria, mais rígida. Porque a gente recebe os
melhores e, se a avaliação fosse
mais profunda, deveríamos devolver os melhores.
É óbvio que devolvemos muitíssimos bons, mas aquela homogeneidade que recebemos
dos melhores não se repete na
outra ponta.
FOLHA - Por quê?
RODAS - Há uma tradição, que
não é só nossa, é brasileira, do
extremo paternalismo que o
professor tem com o aluno. Isso
não é mais possível. Você coloca no mercado uma pessoa formada com sua chancela, você
tem obrigação de ter testado
essa pessoa.
Isso até mesmo do prisma do
direito do consumidor, para demonstrar claramente que nós
estaríamos, se não devolvendo
ao mercado alguém melhor,
mas pelo menos tão bom quanto entrou.
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