São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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Cidade em Minas é tomada por crateras em área mineradora

Buracos de até 10 metros de profundidade já chegaram à zona urbana de Vazante, município no noroeste do Estado

Ministério Público Federal diz que danos são causados por mineração; Grupo Votorantim nega e se respalda em licenças dadas por órgãos públicos

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VAZANTE (MG)
GUSTAVO HENNEMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

Maior produtora de zinco do país, Vazante (noroeste de Minas Gerais) vem sofrendo danos ambientais causados pela atividade mineradora, segundo o Ministério Público Federal.
Em ação civil pública, o MPF afirma que a exploração de minério de zinco pela CMM, do Grupo Votorantim, provoca crateras -que estão chegando à área urbana- e contaminação do rio Santa Catarina, que corta o município.
O hidrogeólogo da PUC-RJ Antônio Roberto Barbosa, que pesquisa a região desde 1995, diz que "já devem ter surgido umas 1.500 dolinas [crateras]" em todo o município.
A mineradora nega qualquer relação entre sua atividade e os danos ambientais apontados e se respalda em licenças concedidas por órgãos públicos.
A ação pede o cancelamento imediato das licenças ambientais concedidas e também responsabiliza pelos danos a União, o Departamento Nacional de Produção Mineral, o Estado de Minas e o município de Vazante. Segundo a ação, o poder público é omisso e não foi prudente ao renovar as licenças de operação porque "não há conhecimento suficiente do subsolo" para determinar onde vão aparecer novas depressões.
Técnicos da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), que embasaram a perícia do MPF, atestaram que o bombeamento que drena o subsolo da mina causou depressões no solo e secou lagos e nascentes.
À época do estudo, em maio de 2000, o bombeamento era de 8.000 m3 por hora, capaz de encher, em um dia, 77 piscinas olímpicas. Hoje, a vazão caiu para 5.000 m3 por hora, ainda considerada bastante elevada pelo geólogo Luiz Nishiyama, da UFU, um dos peritos.
Nishiyama diz que o aparecimento de dolinas é um processo natural em rochas calcárias, "mas poderia levar milhares de anos". "Todo processo natural pode ser acelerado. Por isso atribuímos à ação humana."
As rochas calcárias, típicas daquela região, possuem cavernas subterrâneas preenchidas com água que dão sustentação à superfície, diz o pesquisador.
Fazendeiros relatam que a maioria das dolinas apareceu na zona rural a partir de meados dos anos 90 -quando a mina subterrânea, de 354 metros de profundidade, já operava.

Buracos em sequência
Na fazenda de 3.500 hectares da família Barreto, que também já explorou zinco, cerca de 50 crateras começaram a surgir a partir de meados dos anos 90, segundo Gilberto Barreto, 56.
A Folha visitou o local e viu uma cratera de cerca de 8 m de diâmetro e 5 m de profundidade, com rachaduras na borda. A poucos passos de distância, há mais oito crateras.
A lagoa da fazenda estava com dois palmos de profundidade em seu ponto menos raso. Barreto diz que ela "era perene, tinha até peixe", e começou a secar no fim dos anos 90, quando parte de suas 1.200 cabeças de gado morreu -de acordo com ele, por contaminação.
Na fazenda Mata dos Paulistas, também vizinha à CMM, a maior cratera tem cerca de 80 passos de largura e há árvores com as raízes suspensas. A situação se repete em outras propriedades da região.
Na cidade, em 2006, uma das crateras derrubou um muro -hoje trincado de novo. Na casa da cabeleireira Jussara Assunção, 30, uma teia de trincas na parede deixa a família em alerta. Uma rachadura de cerca de 2 ms sai da janela e corta o cimento até perto do piso. "É muito difícil entrar numa casa na cidade sem trincas", diz.


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