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Cidade em Minas é tomada por crateras em área mineradora
Buracos de até 10 metros de profundidade já chegaram à
zona urbana de Vazante, município no noroeste do Estado
Ministério Público Federal diz
que danos são causados por
mineração; Grupo Votorantim
nega e se respalda em licenças
dadas por órgãos públicos
CRISTINA MORENO DE CASTRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VAZANTE (MG)
GUSTAVO HENNEMANN
DA AGÊNCIA FOLHA
Maior produtora de zinco do
país, Vazante (noroeste de Minas Gerais) vem sofrendo danos ambientais causados pela
atividade mineradora, segundo
o Ministério Público Federal.
Em ação civil pública, o MPF
afirma que a exploração de minério de zinco pela CMM, do
Grupo Votorantim, provoca
crateras -que estão chegando
à área urbana- e contaminação do rio Santa Catarina, que
corta o município.
O hidrogeólogo da PUC-RJ
Antônio Roberto Barbosa, que
pesquisa a região desde 1995,
diz que "já devem ter surgido
umas 1.500 dolinas [crateras]"
em todo o município.
A mineradora nega qualquer
relação entre sua atividade e os
danos ambientais apontados e
se respalda em licenças concedidas por órgãos públicos.
A ação pede o cancelamento
imediato das licenças ambientais concedidas e também responsabiliza pelos danos a
União, o Departamento Nacional de Produção Mineral, o Estado de Minas e o município de
Vazante. Segundo a ação, o poder público é omisso e não foi
prudente ao renovar as licenças
de operação porque "não há conhecimento suficiente do subsolo" para determinar onde vão
aparecer novas depressões.
Técnicos da UFU (Universidade Federal de Uberlândia),
que embasaram a perícia do
MPF, atestaram que o bombeamento que drena o subsolo da
mina causou depressões no solo e secou lagos e nascentes.
À época do estudo, em maio
de 2000, o bombeamento era
de 8.000 m3 por hora, capaz de
encher, em um dia, 77 piscinas
olímpicas. Hoje, a vazão caiu
para 5.000 m3 por hora, ainda
considerada bastante elevada
pelo geólogo Luiz Nishiyama,
da UFU, um dos peritos.
Nishiyama diz que o aparecimento de dolinas é um processo natural em rochas calcárias,
"mas poderia levar milhares de
anos". "Todo processo natural
pode ser acelerado. Por isso
atribuímos à ação humana."
As rochas calcárias, típicas
daquela região, possuem cavernas subterrâneas preenchidas
com água que dão sustentação
à superfície, diz o pesquisador.
Fazendeiros relatam que a
maioria das dolinas apareceu
na zona rural a partir de meados dos anos 90 -quando a mina subterrânea, de 354 metros
de profundidade, já operava.
Buracos em sequência
Na fazenda de 3.500 hectares
da família Barreto, que também já explorou zinco, cerca de
50 crateras começaram a surgir
a partir de meados dos anos 90,
segundo Gilberto Barreto, 56.
A Folha visitou o local e viu
uma cratera de cerca de 8 m de
diâmetro e 5 m de profundidade, com rachaduras na borda. A
poucos passos de distância, há
mais oito crateras.
A lagoa da fazenda estava
com dois palmos de profundidade em seu ponto menos raso.
Barreto diz que ela "era perene,
tinha até peixe", e começou a
secar no fim dos anos 90, quando parte de suas 1.200 cabeças
de gado morreu -de acordo
com ele, por contaminação.
Na fazenda Mata dos Paulistas, também vizinha à CMM, a
maior cratera tem cerca de 80
passos de largura e há árvores
com as raízes suspensas. A situação se repete em outras
propriedades da região.
Na cidade, em 2006, uma das
crateras derrubou um muro
-hoje trincado de novo. Na casa da cabeleireira Jussara Assunção, 30, uma teia de trincas
na parede deixa a família em
alerta. Uma rachadura de cerca
de 2 ms sai da janela e corta o
cimento até perto do piso. "É
muito difícil entrar numa casa
na cidade sem trincas", diz.
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