MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Mesmo que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, fique isolado no presídio de Presidente Bernardes (SP), sua posição de principal fornecedor de cocaína para as favelas dominadas pela facção criminosa CV (Comando Vermelho) só será atingida se for desmantelada a estrutura de distribuição que ele criou antes de ser preso, em 2001.
Segundo a diretora da Cinpol (Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil), inspetora Marina Maggessi, Beira-Mar criou uma estrutura de distribuição de drogas na favela da Rocinha (zona sul do Rio), a chamada Conexão Rocinha, que se mantém até hoje.
De acordo com Maggessi, a mando de Beira-Mar, o traficante Sandro Mendonça do Nascimento, o Bill, um dos chefes da Rocinha, negocia cocaína com guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e organiza a distribuição da droga pelos redutos do CV. Segundo a polícia, a Rocinha é a favela que mais lucra com o narcotráfico.
Maggessi afirma que, com Beira-Mar longe, a onda de violência vai diminuir no Rio. "O Beira-Mar virou uma espécie de mito dentro do CV e incentivava as ações violentas." Ela afirmou que, antes da transferência de Beira-Mar, recebeu informações de um suposto plano do CV de invadir o morro do Juramento (zona norte), reduto do grupo rival TC (Terceiro Comando) na madrugada de amanhã.
Para Maggessi, a facção está desesperada porque a maioria dos seus redutos está "falida". "O CV está quebrado. Em virtude dos confrontos, suas favelas não estão vendendo nada, com exceção da Rocinha", disse.
Para o chefe de investigações da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), Fernando Rodrigues, mesmo que os traficantes enfrentem um desabastecimento de drogas, com o isolamento de Beira-Mar, eles logo arrumarão novos "matutos" (atacadistas).
Ele disse não acreditar que ocorra uma guerra entre as facções pelo controle do tráfico.


Texto Anterior: Slogan de facção criminosa tem significado oculto
Próximo Texto: Traficante teve de acordar às 5h
Índice