São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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País é líder mundial no uso de drogas para emagrecer, diz estudo

Relatório de órgão ligado à ONU indica que consumo no Brasil é quase o triplo do registrado nos Estados Unidos

Ministério da Saúde promete estratégia para educar pacientes e médicos sobre os riscos que esses remédios podem causar

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

Relatório do órgão auxiliar da Organização das Nações Unidas que será divulgado hoje coloca o Brasil como campeão mundial do consumo de drogas estimulantes utilizadas principalmente para emagrecer.
O país tem taxas que são quase o triplo das registradas nos EUA, onde o alto consumo das substâncias também preocupa.
De acordo com o relatório, o crescimento da oferta de estimulantes no Brasil e na Argentina leva ao abuso do consumo desses medicamentos.
O Ministério da Saúde, que já vinha sendo alertado por sucessivos relatórios de pesquisadores brasileiros, informou ontem que considera os dados alarmantes e que, em algumas semanas, dará início a uma estratégia para educar pacientes e médicos sobre os riscos de drogas como os derivados das anfetaminas, que podem causar dependência, psicose, problemas cardíacos e até matar.
"Defendo até tomar medidas mais radicais", afirmou Pedro Gabriel Delgado, coordenador de Saúde Mental do ministério.
Uma possibilidade, exemplificou, é proibir a produção de fórmulas para emagrecer em farmácias de manipulação, uma das principais fontes desse tipo de remédio, apontam estudos nacionais.
Delgado destacou que o Brasil hoje é um dos maiores produtores de drogas para emagrecer e que a maior parte do consumo é feita com receita médica, o que indica que medidas de controle poderão ser mais fáceis de implementar. "Não é um mercado negro."

Novo regulamento
Também a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deve apresentar medidas contra o alto consumo das drogas para emagrecer, os anorexígenos. Segundo Dirceu Raposo de Mello, diretor-presidente do órgão, em duas semanas deverá ser divulgado novo regulamento para controle das receitas dos remédios, mudança que começou a ser discutida em 2006.
Será adotado também um sistema computadorizado para que a agência tenha acesso direto a dados das farmácias, como informações sobre os médicos que prescrevem os remédios, quantidades e tipos de droga adquiridos, além de dados sobre o paciente.
A Jife (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes), órgão independente com sede na Áustria e que trabalha para o Escritório Contra Drogas e o Crime da ONU, divulga anualmente relatório com análises sobre a situação do controle das drogas no mundo -o Brasil foi um dentre os 17 países visitados.
A instituição aponta que as mais altas taxas de consumo per capita têm sido tradicionalmente registradas nas Américas, enquanto Ásia, Oceania e Europa vêm apresentando redução do consumo.
O texto destaca que países como o Chile, a Dinamarca e a França introduziram medidas especiais de controle para evitar o uso inapropriado de estimulantes, o que significou queda do consumo. "Em outros países, no entanto, em particular Argentina, Austrália, Coréia e Cingapura, o consumo cresceu significativamente."

"Plantinhas"
"O pior é que ninguém sabe o que há de consumo ilegal. No ano passado, foi feita uma pesquisa e emagrecedores vendidos em lojas de moda, cabeleireiros e academias, supostamente à base de plantas, continham drogas para emagrecer e não apenas plantinhas", afirma Elisaldo Carlini, diretor do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), vinculado à Universidade Federal de São Paulo.
Carlini, professor de psicofarmacologia, faz parte do comitê que preparou a avaliação e dados do Cebrid abasteceram o relatório da Jife.
Segundo Solange Nappo, pesquisadora do Cebrid, estudo realizado em 2000 pelo órgão apontou que médicos endocrinologistas, especialidade que trata da obesidade, foram os que menos prescreveram os anorexígenos, em mais de 100 mil receitas avaliadas.
Boa parte era recomendada por outros profissionais, como médicos do trabalho. "Isso mostra que as drogas são utilizadas para fins estéticos."


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