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País é líder mundial no uso de drogas para emagrecer, diz estudo
Relatório de órgão ligado à ONU indica que consumo no Brasil é quase o triplo do registrado nos Estados Unidos
Ministério da Saúde promete estratégia para educar pacientes e médicos sobre os riscos que esses remédios podem causar
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Relatório do órgão auxiliar
da Organização das Nações
Unidas que será divulgado hoje
coloca o Brasil como campeão
mundial do consumo de drogas
estimulantes utilizadas principalmente para emagrecer.
O país tem taxas que são quase o triplo das registradas nos
EUA, onde o alto consumo das
substâncias também preocupa.
De acordo com o relatório, o
crescimento da oferta de estimulantes no Brasil e na Argentina leva ao abuso do consumo
desses medicamentos.
O Ministério da Saúde, que já
vinha sendo alertado por sucessivos relatórios de pesquisadores brasileiros, informou ontem que considera os dados
alarmantes e que, em algumas
semanas, dará início a uma estratégia para educar pacientes
e médicos sobre os riscos de
drogas como os derivados das
anfetaminas, que podem causar dependência, psicose, problemas cardíacos e até matar.
"Defendo até tomar medidas
mais radicais", afirmou Pedro
Gabriel Delgado, coordenador
de Saúde Mental do ministério.
Uma possibilidade, exemplificou, é proibir a produção de
fórmulas para emagrecer em
farmácias de manipulação,
uma das principais fontes desse
tipo de remédio, apontam estudos nacionais.
Delgado destacou que o Brasil hoje é um dos maiores produtores de drogas para emagrecer e que a maior parte do consumo é feita com receita médica, o que indica que medidas de
controle poderão ser mais fáceis de implementar. "Não é
um mercado negro."
Novo regulamento
Também a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) deve apresentar medidas
contra o alto consumo das drogas para emagrecer, os anorexígenos. Segundo Dirceu Raposo
de Mello, diretor-presidente do
órgão, em duas semanas deverá
ser divulgado novo regulamento para controle das receitas
dos remédios, mudança que começou a ser discutida em 2006.
Será adotado também um
sistema computadorizado para
que a agência tenha acesso direto a dados das farmácias, como informações sobre os médicos que prescrevem os remédios, quantidades e tipos de
droga adquiridos, além de dados sobre o paciente.
A Jife (Junta Internacional
de Fiscalização de Entorpecentes), órgão independente com
sede na Áustria e que trabalha
para o Escritório Contra Drogas e o Crime da ONU, divulga
anualmente relatório com análises sobre a situação do controle das drogas no mundo -o
Brasil foi um dentre os 17 países visitados.
A instituição aponta que as
mais altas taxas de consumo
per capita têm sido tradicionalmente registradas nas Américas, enquanto Ásia, Oceania e
Europa vêm apresentando redução do consumo.
O texto destaca que países
como o Chile, a Dinamarca e a
França introduziram medidas
especiais de controle para evitar o uso inapropriado de estimulantes, o que significou queda do consumo. "Em outros
países, no entanto, em particular Argentina, Austrália, Coréia
e Cingapura, o consumo cresceu significativamente."
"Plantinhas"
"O pior é que ninguém sabe o
que há de consumo ilegal. No
ano passado, foi feita uma pesquisa e emagrecedores vendidos em lojas de moda, cabeleireiros e academias, supostamente à base de plantas, continham drogas para emagrecer e
não apenas plantinhas", afirma
Elisaldo Carlini, diretor do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), vinculado à Universidade Federal de São Paulo.
Carlini, professor de psicofarmacologia, faz parte do comitê que preparou a avaliação e
dados do Cebrid abasteceram o
relatório da Jife.
Segundo Solange Nappo,
pesquisadora do Cebrid, estudo
realizado em 2000 pelo órgão
apontou que médicos endocrinologistas, especialidade que
trata da obesidade, foram os
que menos prescreveram os
anorexígenos, em mais de 100
mil receitas avaliadas.
Boa parte era recomendada
por outros profissionais, como
médicos do trabalho. "Isso
mostra que as drogas são utilizadas para fins estéticos."
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