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Kassab se omite e criação de vagas no TCM vai virar lei
Prefeito devolveu à Câmara projeto que cria 28 vagas no tribunal, sem concurso
Com a medida, o presidente da Câmara, Antonio Carlos Rodrigues, tem a obrigação de promulgar o projeto, transformando-o em lei
ROGÉRIO PAGNAN
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito Gilberto Kassab
(DEM) omitiu-se sobre a ampliação das benesses para o
TCM (Tribunal de Contas do
Município) de São Paulo e, com
isso, o projeto aprovado pela
Câmara vai se tornar lei.
O democrata não sancionou
nem vetou o projeto aprovado
pela Câmara na última terça.
Devolveu-o ontem aos vereadores "sem apreciá-lo", conforme nota. Tecnicamente, silenciou-se -o que é previsto na
Lei Orgânica do Município.
"O prefeito argumenta que o
TCM é parte integrante do Legislativo, como órgão assessor
da Câmara Municipal, que a
medida foi aprovada pela maioria dos vereadores e não altera
o custo do Legislativo no orçamento da cidade. Trata-se, portanto, de questão interna do
Legislativo, que o prefeito entende que deva ser decidida pela Câmara", diz trecho na nota.
A omissão também foi o caminho trilhado pelo prefeito
quando os vereadores aprovaram no ano passado uma série
de benefícios para a própria Câmara. Na época, porém, deixou
expirar o prazo de 15 dias úteis
-o que tem o mesmo efeito.
Em ambos os casos, o presidente da Câmara, Antonio Carlos Rodrigues (PR), tem a obrigação de promulgar o projeto
transformando-o em lei, sem
necessidade de nova votação
em plenário. Na terça-feira, 29
vereadores votaram a favor,
seis contra e um se absteve.
A posição do prefeito já era
esperada. Pré-candidado à reeleição, ele preferiu evitar atritos com o órgão que analisa
suas contas. Ao mesmo tempo,
poupou o desgaste político de
sancionar a lei e autorizar a
criação de mais cargos no tribunal, já investigado pela própria
Câmara por conta dos supersalários e casos de nepotismo.
Essa posição também agrada
à Câmara. Caso o prefeito tivesse vetado o projeto, os vereadores precisariam discutir a derrubada do veto em plenário, expondo-se mais uma vez.
O projeto que Kassab diz ser
um problema da Câmara cria
28 novos cargos para o tribunal,
que já tem 638 trabalhadores.
Os novos funcionários são todos de livre nomeação.
Em outras palavras, não precisam enfrentar concursos
-são escolhidos pelos critérios
dos cinco conselheiros.
Além de aumentar o quadro
do órgão, essa futura lei também autoriza os funcionários
do TCM a acumular gratificações em seus salários, mesmo
se ultrapassarem o teto constitucional. Pela Constituição, nenhum funcionário municipal
pode ganhar mais que os R$
9.636 do prefeito.
Para os vereadores e conselheiros, não há ilegalidade em
ultrapassar o teto. Tanto que a
própria Câmara aprovou lei
igual e não foi questionada.
O promotor de Justiça Silvio
Marques (Cidadania) diz não
pensar da mesma forma. Para
ele, que abriu um inquérito para apurar o caso, o teto é para
ser cumprido. Marques diz esperar a publicação da lei para
analisar com detalhes a extensão dos benefícios.
Nessa análise, ainda segundo
o promotor, se for verificado
que a Câmara também aprovou
lei que permite burlar o teto, fato que o Ministério Público diz
desconhecer, será aberto um
inquérito em separado para
apurar eventual irregularidade.
Kassab e Rodrigues foram
procurados, mas até a conclusão desta edição não haviam se
manifestado.
O TCM diz que essa "é uma
questão do Executivo e do Legislativo". "Os tribunais não legislam e não devem interferir
nesses procedimentos porque
iria ferir os princípios constitucionais", diz resposta enviada
por e-mail à reportagem.
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