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Sobrevivente narra pânico após a queda
Adriano Rodrigues, passageiro do helicóptero que caiu em Macaé, diz que não houve tempo nem de acionar flutuadores
O cozinheiro conta ter nadado para longe da aeronave, que vazava querosene; "Vítimas desmaiaram com o choque, tal a violência", diz ele
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MACAÉ (RJ)
O helicóptero acidentado na
bacia de Campos (litoral norte
do Estado do Rio) bateu com o
lado esquerdo na água, de modo muito violento.
Todos os cinco mortos e desaparecidos, entre eles o piloto
Paulo Roberto Veloso Calmon,
sentavam do lado onde ocorreu
o choque.
Para escapar do combustível
que vazava do aparelho, os sobreviventes tiveram que nadar
rapidamente para longe em um
mar com ondas de até 2 m e
correnteza forte. Eles temia
uma explosão.
O relato é do cozinheiro
Adriano de Souza Rodrigues,
35, o único dos 15 sobreviventes que burlou a vigilância da
Petrobras e falou sobre o desastre ao deixar ontem de manhã o
Hospital da Unimed, em Macaé
(cidade a 188 km do Rio de Janeiro), onde estava internado
havia dois dias.
Vítima pela primeira vez de
um acidente aéreo em 15 anos
de vôos na bacia petrolífera, ele
contou que, logo após a decolagem, o avião chocou-se com a
água em menos de um minuto.
"Foi uma queda, não um pouso
forçado", disse. "Imagina que
as vítimas tenham desmaiado
com o choque, tal a violência."
Segundo ele, o piloto não teve
nem tempo de acionar os flutuadores. Quem o fez, quando a
aeronave já estava na água, foi o
co-piloto Sérgio Ricardo Muller, que continuava internado
ontem.
Empregado da empresa de
alimentação De Nadai, que
presta serviços à Petrobras, Rodrigues, que vestia colete como
os demais passageiros, jogou-se
na água quando o helicóptero
boiou. Estava embebido em
querosene que vazava do aparelho e se espalhava pelo mar.
Tratou de nadar, pois o combustível incendiaria caso o aparelho explodisse. Ao seu lado,
nadava o co-piloto. Não viu o
piloto depois do choque.
Quando alcançou um local
que julgava ser seguro, parou à
espera de resgate. Não chegou a
dar as mãos aos demais sobreviventes. Segundo ele, só uns
seis se agarraram uns aos outros à espera da salvação.
Foi identificada ontem em
Macaé a quarta vítima do desastre, o cozinheiro Guaraci
Novaes Soares, 44, também
funcionário da De Nadai.
Falta apenas encontrar o piloto, cujo corpo continuava desaparecido até o fechamento
desta edição. As buscas prosseguem, de acordo com a Petrobras.
FOLHA - Como foi o acidente?
ADRIANO DE SOUZA RODRIGUES -
Muito rápido. [O helicóptero]
Bateu na água com o lado esquerdo.
FOLHA - O flutuador já estava acionado na queda?
RODRIGUES - Não.
FOLHA - Quem o acionou?
RODRIGUES - O co-piloto, na
água.
FOLHA - Por quanto tempo esperou pelo resgate?
RODRIGUES - Mais ou menos
uma hora.
FOLHA - Não é muito tempo?
RODRIGUES - Foi rápido, o resgate foi rápido.
FOLHA - E a saúde?
RODRIGUES - Está tudo bem,
graças a Deus.
FOLHA - Você viu quando o helicóptero afundou?
RODRIGUES - Eu estava dentro
d'água, não deu para ver.
FOLHA - O que aconteceu após a
decolagem?
RODRIGUES - Não me lembro direito.
FOLHA - E na hora em que o helicóptero foi para a água?
RODRIGUES - Foi uma pancada,
uma pancada feia, violenta.
FOLHA - Como foi ficar em alto mar?
RODRIGUES - Nadei para longe
por causa do querosene.
FOLHA - Muitos pediam socorro?
RODRIGUES - A aeromoça (Daniele Madureira Neto) estava
gritando.
FOLHA - E agora?
RODRIGUES - Não sei, agora só
Deus é quem sabe.
FOLHA - Nasceu de novo?
RODRIGUES - De novo.
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