São Paulo, sábado, 01 de março de 2008

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Sobrevivente narra pânico após a queda

Adriano Rodrigues, passageiro do helicóptero que caiu em Macaé, diz que não houve tempo nem de acionar flutuadores

O cozinheiro conta ter nadado para longe da aeronave, que vazava querosene; "Vítimas desmaiaram com o choque, tal a violência", diz ele

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MACAÉ (RJ)

O helicóptero acidentado na bacia de Campos (litoral norte do Estado do Rio) bateu com o lado esquerdo na água, de modo muito violento.
Todos os cinco mortos e desaparecidos, entre eles o piloto Paulo Roberto Veloso Calmon, sentavam do lado onde ocorreu o choque.
Para escapar do combustível que vazava do aparelho, os sobreviventes tiveram que nadar rapidamente para longe em um mar com ondas de até 2 m e correnteza forte. Eles temia uma explosão.
O relato é do cozinheiro Adriano de Souza Rodrigues, 35, o único dos 15 sobreviventes que burlou a vigilância da Petrobras e falou sobre o desastre ao deixar ontem de manhã o Hospital da Unimed, em Macaé (cidade a 188 km do Rio de Janeiro), onde estava internado havia dois dias.
Vítima pela primeira vez de um acidente aéreo em 15 anos de vôos na bacia petrolífera, ele contou que, logo após a decolagem, o avião chocou-se com a água em menos de um minuto.
"Foi uma queda, não um pouso forçado", disse. "Imagina que as vítimas tenham desmaiado com o choque, tal a violência."
Segundo ele, o piloto não teve nem tempo de acionar os flutuadores. Quem o fez, quando a aeronave já estava na água, foi o co-piloto Sérgio Ricardo Muller, que continuava internado ontem.
Empregado da empresa de alimentação De Nadai, que presta serviços à Petrobras, Rodrigues, que vestia colete como os demais passageiros, jogou-se na água quando o helicóptero boiou. Estava embebido em querosene que vazava do aparelho e se espalhava pelo mar.
Tratou de nadar, pois o combustível incendiaria caso o aparelho explodisse. Ao seu lado, nadava o co-piloto. Não viu o piloto depois do choque.
Quando alcançou um local que julgava ser seguro, parou à espera de resgate. Não chegou a dar as mãos aos demais sobreviventes. Segundo ele, só uns seis se agarraram uns aos outros à espera da salvação.
Foi identificada ontem em Macaé a quarta vítima do desastre, o cozinheiro Guaraci Novaes Soares, 44, também funcionário da De Nadai. Falta apenas encontrar o piloto, cujo corpo continuava desaparecido até o fechamento desta edição. As buscas prosseguem, de acordo com a Petrobras.

 

FOLHA - Como foi o acidente?
ADRIANO DE SOUZA RODRIGUES -
Muito rápido. [O helicóptero] Bateu na água com o lado esquerdo.

FOLHA - O flutuador já estava acionado na queda?
RODRIGUES -
Não.

FOLHA - Quem o acionou?
RODRIGUES -
O co-piloto, na água.

FOLHA - Por quanto tempo esperou pelo resgate?
RODRIGUES -
Mais ou menos uma hora.

FOLHA - Não é muito tempo?
RODRIGUES -
Foi rápido, o resgate foi rápido.

FOLHA - E a saúde?
RODRIGUES -
Está tudo bem, graças a Deus.

FOLHA - Você viu quando o helicóptero afundou?
RODRIGUES -
Eu estava dentro d'água, não deu para ver.

FOLHA - O que aconteceu após a decolagem?
RODRIGUES -
Não me lembro direito.

FOLHA - E na hora em que o helicóptero foi para a água?
RODRIGUES -
Foi uma pancada, uma pancada feia, violenta.

FOLHA - Como foi ficar em alto mar?
RODRIGUES -
Nadei para longe por causa do querosene.

FOLHA - Muitos pediam socorro?
RODRIGUES -
A aeromoça (Daniele Madureira Neto) estava gritando.

FOLHA - E agora?
RODRIGUES -
Não sei, agora só Deus é quem sabe.

FOLHA - Nasceu de novo?
RODRIGUES -
De novo.


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