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Sem-teto criticam albergues e abordagem da guarda municipal
Eles afirmam que abrigos não têm higiene ou segurança e dizem preferir ficar nas ruas
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-dono de uma adega perto
do aeroporto de Congonhas, na
zona sul de São Paulo, Manoel
Domingos da Rosa Neto, 41, vive há três anos numa esquina
na Bela Vista. Diz ter perdido
tudo devido a brigas familiares.
Nas ruas, conheceu Sirlei dos
Santos, 22, sua atual mulher.
Ela usa uma lata de tinta de
18 litros adaptada como fogão.
Também na esquina, o casal toma banho com a água conseguida num lava-rápido. "O que
tem deixado a gente muito triste é o fato de que a Guarda Civil
Municipal tenta todo dia tirar a
gente daqui e sempre age com
desrespeito. A gente não quer
viver em albergue. Tem muita
violência e falta de higiene."
Na esquina onde vive, ele ganhou fama como pedreiro dos
bons. "Tem gente que me dá R$
7.000 para comprar material.
Não é porque a gente está na
rua que não merece respeito."
José, 30, também critica os
albergues. Mineiro da cidade
de Passos, ele vive nas ruas das
imediações da praça da Sé há 18
anos, depois de perder pai e
mãe num incêndio na favela
onde viviam.
Enquanto contava sua situação, olhava para o céu e torcia
para mais um temporal desabar. Assim, venderia os dez
guarda-chuvas novos que segurava -é como ele ganha os R$
50 por dia que gasta com três
refeições e com maconha.
"Quem trabalha com gente
da rua precisa entender que [na
rua] tem de tudo. Tem quem
está nela porque quer; os que
estão por necessidade e os encostados, que se fazem de coitadinhos. É preciso saber separar e oferecer o que cada um
precisa", diz Alves.
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