São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2000


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EDUCAÇÃO

Só 3 de cada 100 estabelecimentos de ensino fundamental contam com acesso à Internet, revela censo

Brasil tem 63 mil escolas sem luz

BETINA BERNARDES
Coordenadora de Cotidiano da Sucursal de Brasília

Cerca de 63 mil escolas de ensino fundamental do país não têm energia elétrica -34,5% do total. Menos de 8 em cada 100 estabelecimentos do antigo 1º grau dispõem de equipamentos para atividades pedagógicas, como laboratórios de ciência ou de informática. E apenas 3 de cada 100 têm acesso à Internet.
Os dados são do último censo escolar do MEC e fazem uma radiografia das escolas do país em março do ano passado.
Os números mostram que, apesar desse quadro, melhorou um pouco a situação de infra-estrutura das escolas entre 97 e 99.
Se, três anos atrás, possuíam laboratórios de ciências 6,5% dos estabelecimentos de ensino fundamental, e 4,1% tinham laboratórios de informática, a proporção passou, respectivamente, para 7% e 7,7% em março do ano passado.

Menos escolas
Nesses dois anos também diminuiu a proporção de escolas sem energia elétrica. Mas essa diminuição se deve, sobretudo, à redução do número de escolas rurais.
A política de nucleação (fusão) de escolas de ensino rural é incentivada pelo MEC para aumentar o número de alunos por escola.
Das escolas sem luz, 99,5% estão localizadas na área rural. Os alunos das escolas rurais são 6,5 milhões dos 36 milhões de todo o ensino fundamental no país -embora mais da metade dos 183 mil estabelecimentos de ensino estejam no meio rural. Desses, 12 mil não têm água.
"Escolas rurais são pequenas, muitas possuem menos de 20 alunos, e as aulas são da 1ª à 4ª série. Em geral, as escolas sem luz só têm aulas durante o dia. Estamos estimulando a aquisição de geradores", disse o ministro da Educação, Paulo Renato Souza.

Biblioteca e Internet
A presença de biblioteca aumentou de 97 para 99, mas ainda deixa a desejar. Cerca de um quarto das escolas possui biblioteca, segundo os dados mais recentes, enquanto 20% tinham coleções de livros para consulta ou empréstimo aos alunos em 97.
"Eu posso estar sendo um herege, mas, hoje em dia, tão importante quanto biblioteca é ter acesso ao conhecimento proporcionado pela Internet", afirma Ulysses Panisset, presidente do Conselho Nacional de Educação.
Nesse aspecto, as escolas de ensino fundamental ainda estão patinando. Apenas 6.030 (3,3% do total) possuem acesso à rede mundial de computadores, das quais 67% são particulares. Ou seja, há conexão com a Internet para alunos de apenas 1.954 das 165 mil escolas públicas brasileiras desse nível de ensino.
Em 97, o MEC não verificou a presença de conexão à Internet nas escolas.
O censo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão ligado ao MEC, confirma uma informação já presente nas pesquisas anteriores: as escolas particulares são muito mais bem equipadas do que as públicas, seja em presença de computador, conexão à Internet, laboratório de ciências, biblioteca ou acesso à luz e água.

Desigualdades regionais
O levantamento também confirma outro aspecto importante da educação brasileira: as distorções regionais. A situação melhorou em relação a 97, mas o recorte regional mostra que a presença de equipamentos pedagógicos continua proporcionalmente bem maior no Sul e Sudeste do que no Norte e Nordeste.
Exemplos: quase metade das escolas do Sul e do Sudeste têm bibliotecas, proporção que cai a 10% no Norte-Nordeste; enquanto laboratórios de ciências ou informática chegam a no máximo 3% dos estabelecimentos de ensino nessas duas regiões, no Sul e no Sudeste chegam a até 20%.
No Norte, onde predominam escolas rurais, só 0,7% dos estabelecimentos de ensino têm acesso à Internet. E só 33,6% possuem energia elétrica. No Sudeste, essas proporções são de 10% e 89%, respectivamente.
O ministro Paulo Renato reconhece que a infra-estrutura das escolas dificulta a implantação da reforma pedagógica idealizada pelo MEC, mas diz que, desde o início de sua gestão, o ministério vem trabalhando para melhorar o quadro (leia texto na pág. 3).
Para o presidente da Undime (união de secretários municipais da educação), Neroaldo de Azevedo, os três níveis de governo, federal, estadual e municipal, precisam investir mais para melhorar a infra-estrutura das escolas em todo o país.


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