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ProUni tem sobra de 10,6% das bolsas
Das 108.642 vagas de ensino superior oferecidas neste ano, 11.570 não foram preenchidas; número pode aumentar
Maior sobra, de 9.604 vagas, ocorre nas bolsas parciais, em que o candidato tem desconto de 50% no valor
da mensalidade escolar
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O ProUni, principal programa de bolsas de estudo do Ministério da Educação, não conseguiu neste ano preencher
10,6% das 108.642 vagas que foram oferecidas em instituições
de ensino superior. Das 11.570
vagas não preenchidas, a maioria (9.604) é para bolsas parciais, em que o aluno paga metade da mensalidade.
O ministério ofereceu pelo
ProUni 65.276 bolsas integrais
e 43.366 parciais. As integrais
foram preenchidas com facilidade, já que apenas 3% delas
(menos de 1.966) não foram
utilizadas. No caso das parciais,
no entanto, 22% das bolsas deixaram de ser aproveitadas.
O número de sobras deve aumentar quando o MEC finalizar as estatísticas do ProUni, já
que os dados divulgados até o
momento são apenas de alunos
pré-selecionados, ou seja,
aqueles que fizeram Enem e tiveram desempenho suficiente
para pleitear uma bolsa.
Isso não significa que a vaga
esteja garantida, já que o estudante precisa comprovar ter
renda familiar per capita inferior a três salários mínimos.
A dificuldade para preencher
as vagas de ensino superior não
é exclusiva do ProUni. Em parte, o problema está relacionado
à estagnação das matrículas no
ensino médio. De 1998 a 2000,
o número de concluintes desse
nível de ensino passou de 1,5
milhão para 1,8 milhão e ficou
estacionado nesse patamar.
Já as vagas oferecidas por
instituições públicas e privadas
passaram de 776 mil em 1998 a
2,4 milhões em 2005.
Se em 1998 havia uma vaga
para cada dois concluintes do
ensino médio, sete anos depois
o número de vagas é 31% superior ao de concluintes. Isso significa que, se fosse reservada
uma vaga para cada concluinte
do ensino médio, sobrariam
600 mil cadeiras.
Para o setor privado, essa relação está ainda mais desfavorável, já que o número de concluintes de escolas particulares
de ensino médio -teoricamente aqueles com mais condições
de pagar uma mensalidade-
diminuiu de 360 mil para 300
mil. Antes, esses estudantes representavam 24% dos concluintes. Hoje, são 16%.
A dificuldade de preencher
as vagas do ProUni levou o
MEC a estudar mudanças no
programa (leia nesta pág.).
Na avaliação de Hermes Figueiredo, presidente do Semesp (sindicato de instituições
privadas de ensino superior de
São Paulo), o desconto de 50%
na mensalidade é insuficiente
para atrair o aluno de nível socioeconômico mais baixo.
"Ao entrar no ensino superior, o estudante não tem apenas o custo da mensalidade. É
preciso pagar para locomover-se, comprar livros e alimentar-se. Quem está chegando agora
ao fim do ensino médio são pessoas que vieram de famílias que
não têm condições de pagar pelo ensino superior. Para esses,
não basta o ensino ser gratuito.
Eles precisam de apoio", diz.
Foi justamente esse problema que afastou, por duas vezes,
Nathalia Alves dos Santos, 20,
do ensino superior. Em sua primeira tentativa, ela conseguiu
estudar fisioterapia na universidade Estácio de Sá com uma
bolsa parcial do ProUni.
Ela conta, no entanto, que o
desconto na mensalidade foi
insuficiente, pois não conseguiu comprar os materiais necessários para o curso.
Ela fez uma segunda tentativa, dessa vez estudando direito
no centro universitário UniverCidade. "De início, consegui
um estágio na universidade e
eles me ofereceram uma bolsa,
mas depois desistiram e tive de
parar de estudar."
O consultor Roberto Lobo,
ex-reitor da USP, defende um
relaxamento dos critérios mínimos de renda exigidos pelo
ProUni como forma de facilitar
o ingresso de mais alunos.
Para Lobo, a estagnação do
número de concluintes no ensino médio e o aumento da oferta
no ensino superior fazem com
que as universidades ofereçam
o maior número de vagas possível: "Ninguém que jogar aluno
fora, por isso quase todos colocam em seus vestibulares o
maior número possível de vagas, mesmo que não haja perspectiva de preenchimento."
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