São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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Policial é preso acusado de chantagear PCC

Promotoria afirma que policial seqüestrou enteado de chefe da facção criminosa e exigiu R$ 300 mil para não prendê-lo

De acordo com o Ministério Público, o dinheiro exigido foi pago por integrantes da facção e o enteado do criminoso não foi preso

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O policial civil Augusto Peña foi preso na manhã de ontem sob a acusação de ter seqüestrado e exigido R$ 300 mil para não prender, em março de 2005, Rodrigo Olivatto de Morais, 28, enteado do presidiário Marco Willians Herbas Camacho, Marcola, apontado pela polícia paulista como chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Segundo o Ministério Público, o dinheiro foi pago por integrantes da facção criminosa e o enteado não foi preso.
Peña trabalha atualmente na Divisão de Investigação de Crimes Contra a Fazenda. A sua prisão temporária -por 30 dias- foi decretada pela Vara Criminal de Suzano (Grande São Paulo) a pedido do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Combate e Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de Guarulhos (Grande São Paulo).
Além de Peña, outro policial civil, José Roberto de Araújo, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), e Carlos Roberto dos Santos, "ganso" (informante, na gíria policial) foram presos pelo seqüestro de Morais, filho de Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, 45, advogada e ex-mulher de Marcola, assassinada em outubro de 2002.
Santos, de acordo com a Promotoria, foi o responsável por repassar informações de Morais para que os dois policiais civis conseguissem mantê-lo em cativeiro (na delegacia de Suzano) por 48 horas.
Atualmente, Santos está preso no 8º DP (Brás) e é jurado de morte pelos membros do PCC.
Na operação de ontem, a Promotoria realizou buscas em dois apartamentos de Peña no bairro de Moema (zona sul de SP), em uma casa dele em Boituva (117 km de SP) e, também, na casa do policial Araújo, na zona norte de São Paulo.
A Justiça determinou o seqüestro dos bens de Peña, que também já foi do Deic e do Denarc (narcóticos).
Em um dos apartamentos de Peña em Moema, atualmente ocupado por sua ex-mulher, Regina Célia Lemes de Carvalho, foram apreendidos alguns CDs com áudios de escutas telefônicas feitas em aparelhos utilizados por criminosos, muitos deles ligados ao PCC.
Peña também é investigado sob suspeita de utilizar os grampos telefônicos para tentar extorquir dinheiro de outros integrantes do PCC.
A ex-mulher do policial entregou ao Gaerco uma grande quantidade de CDs com cópias de arquivos extraídos do computador pessoal de Peña, no qual ele mantinha um banco de dados sobre criminosos de São Paulo, principalmente os que já foram acusados de tráfico de drogas e roubos e são apontados pela polícia como chefes do grupo criminoso PCC.
A suspeita é que Peña usava as informações para articular mais seqüestros.
As fotos de Morais, o enteado de Marcola seqüestrado em 2005, estão no banco de dados do policial. As imagens de Cynthia Giglioli da Silva, atual mulher de Marcola, também eram mantidas por Peña em seu computador pessoal.
A mesma situação se repete com o presidiário Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, tido pela polícia como um dos aliados de Marcola na chefia do PCC.

Ataques de maio de 2006
Em abril de 2006, integrantes do PCC armaram um ataque contra a delegacia de Suzano porque, segundo apuração do Ministério Público, Peña não teria cumprido um acordo com membros do grupo criminoso para libertar Gilmar de Holanda Lisboa, o Pebinha, acusado de ser traficante em Diadema (ABC).
Como os criminosos teriam pago R$ 40 mil para Pebinha não ficar preso em Suzano, o PCC resolveu atacar a delegacia da cidade. Sete pessoas morreram em 7 de abril. Quatro delas supostamente eram do PCC, dois eram policiais e um era amigo dos investigadores.
Pouco mais de um mês após esse episódio, o PCC começou os ataques em massa contra as forças de segurança do Estado.
Era 12 de maio quando Marcola, na sala do então diretor do Deic Godofredo Bittencourt, disse que parte da violência que o Estado enfrentaria se devia às atitudes de policiais como Peña. Só agora se soube o que o presidiário quis dizer.

Ex-mulher
Em entrevista ontem à Folha, a ex-mulher de Peña, Regina Célia Lemes de Carvalho, afirmou que é capaz de provar "onde quer que seja" que o policial é bastante ligado ao atual secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, o advogado Lauro Malheiros Neto -o escritório de advocacia da família de Malheiros atuou em duas causas cíveis para Peña, uma delas a separação do casal.
Sem apresentar provas, ela diz que Peña pagava ao secretário-adjunto para que ele o ajudasse na polícia.
Ela não formalizou a acusação aos responsáveis pela investigação. Ontem, ela foi ouvida como testemunha.
Malheiros Neto foi procurado pela Folha ontem, mas não quis conceder entrevista sobre a possível amizade com Peña.
Por meio de nota oficial, ele afirmou que não advoga desde janeiro de 2007 e que a Corregedoria da Polícia Civil é responsável por apurar as denúncias contra os policiais presos.
A reportagem solicitou entrevista com os presos junto à assessoria de imprensa da Segurança Pública, mas o órgão não respondeu ao pedido.


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