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Policial é preso acusado de chantagear PCC
Promotoria afirma que policial seqüestrou enteado de chefe da facção criminosa e exigiu R$ 300 mil para não prendê-lo
De acordo com o Ministério Público, o dinheiro exigido foi pago por integrantes da facção e o enteado do criminoso não foi preso
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O policial civil Augusto Peña
foi preso na manhã de ontem
sob a acusação de ter seqüestrado e exigido R$ 300 mil para
não prender, em março de
2005, Rodrigo Olivatto de Morais, 28, enteado do presidiário
Marco Willians Herbas Camacho, Marcola, apontado pela
polícia paulista como chefe da
facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Segundo o Ministério Público, o dinheiro foi pago por integrantes da facção criminosa e o
enteado não foi preso.
Peña trabalha atualmente na
Divisão de Investigação de Crimes Contra a Fazenda. A sua
prisão temporária -por 30
dias- foi decretada pela Vara
Criminal de Suzano (Grande
São Paulo) a pedido do Gaerco
(Grupo de Atuação Especial
Regional de Combate e Repressão ao Crime Organizado), do
Ministério Público de Guarulhos (Grande São Paulo).
Além de Peña, outro policial
civil, José Roberto de Araújo,
do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), e Carlos Roberto dos
Santos, "ganso" (informante,
na gíria policial) foram presos
pelo seqüestro de Morais, filho
de Ana Maria Olivatto Herbas
Camacho, 45, advogada e ex-mulher de Marcola, assassinada em outubro de 2002.
Santos, de acordo com a Promotoria, foi o responsável por
repassar informações de Morais para que os dois policiais
civis conseguissem mantê-lo
em cativeiro (na delegacia de
Suzano) por 48 horas.
Atualmente, Santos está preso no 8º DP (Brás) e é jurado de
morte pelos membros do PCC.
Na operação de ontem, a Promotoria realizou buscas em
dois apartamentos de Peña no
bairro de Moema (zona sul de
SP), em uma casa dele em Boituva (117 km de SP) e, também,
na casa do policial Araújo, na
zona norte de São Paulo.
A Justiça determinou o seqüestro dos bens de Peña, que
também já foi do Deic e do Denarc (narcóticos).
Em um dos apartamentos de
Peña em Moema, atualmente
ocupado por sua ex-mulher,
Regina Célia Lemes de Carvalho, foram apreendidos alguns
CDs com áudios de escutas telefônicas feitas em aparelhos
utilizados por criminosos, muitos deles ligados ao PCC.
Peña também é investigado
sob suspeita de utilizar os
grampos telefônicos para tentar extorquir dinheiro de outros integrantes do PCC.
A ex-mulher do policial entregou ao Gaerco uma grande
quantidade de CDs com cópias
de arquivos extraídos do computador pessoal de Peña, no
qual ele mantinha um banco de
dados sobre criminosos de São
Paulo, principalmente os que já
foram acusados de tráfico de
drogas e roubos e são apontados pela polícia como chefes do
grupo criminoso PCC.
A suspeita é que Peña usava
as informações para articular
mais seqüestros.
As fotos de Morais, o enteado
de Marcola seqüestrado em
2005, estão no banco de dados
do policial. As imagens de
Cynthia Giglioli da Silva, atual
mulher de Marcola, também
eram mantidas por Peña em
seu computador pessoal.
A mesma situação se repete
com o presidiário Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do
Mangue, tido pela polícia como
um dos aliados de Marcola na
chefia do PCC.
Ataques de maio de 2006
Em abril de 2006, integrantes do PCC armaram um ataque contra a delegacia de Suzano porque, segundo apuração
do Ministério Público, Peña
não teria cumprido um acordo
com membros do grupo criminoso para libertar Gilmar de
Holanda Lisboa, o Pebinha,
acusado de ser traficante em
Diadema (ABC).
Como os criminosos teriam
pago R$ 40 mil para Pebinha
não ficar preso em Suzano, o
PCC resolveu atacar a delegacia
da cidade. Sete pessoas morreram em 7 de abril. Quatro delas
supostamente eram do PCC,
dois eram policiais e um era
amigo dos investigadores.
Pouco mais de um mês após
esse episódio, o PCC começou
os ataques em massa contra as
forças de segurança do Estado.
Era 12 de maio quando Marcola, na sala do então diretor do
Deic Godofredo Bittencourt,
disse que parte da violência que
o Estado enfrentaria se devia às
atitudes de policiais como
Peña. Só agora se soube o que o
presidiário quis dizer.
Ex-mulher
Em entrevista ontem à Folha, a ex-mulher de Peña, Regina Célia Lemes de Carvalho,
afirmou que é capaz de provar
"onde quer que seja" que o policial é bastante ligado ao atual
secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, o advogado Lauro Malheiros Neto -o
escritório de advocacia da família de Malheiros atuou em duas
causas cíveis para Peña, uma
delas a separação do casal.
Sem apresentar provas, ela
diz que Peña pagava ao secretário-adjunto para que ele o ajudasse na polícia.
Ela não formalizou a acusação aos responsáveis pela investigação. Ontem, ela foi ouvida como testemunha.
Malheiros Neto foi procurado pela Folha ontem, mas não
quis conceder entrevista sobre
a possível amizade com Peña.
Por meio de nota oficial, ele
afirmou que não advoga desde
janeiro de 2007 e que a Corregedoria da Polícia Civil é responsável por apurar as denúncias contra os policiais presos.
A reportagem solicitou entrevista com os presos junto à
assessoria de imprensa da Segurança Pública, mas o órgão
não respondeu ao pedido.
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