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Professor que disse que QI de baiano é baixo é alvo de críticas
Para o governador da Bahia, declarações do professor Antônio Dantas são "surto de imbecilidade'; para Tom Zé, são uma "piada"
Coordenador do curso de medicina da UFBA atribuiu mau resultado da universidade no Enade ao nível intelectual dos alunos
Abrantes/Agência A Tarde/Folha Imagem
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Antônio Dantas, que disse anteontem que baianos têm baixo QI
JOSÉ EDUARDO RONDON
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), classificou
ontem como um "surto de imbecilidade" as declarações do
coordenador do curso de medicina da UFBA (Universidade
Federal da Bahia), Antônio Natalino Dantas, 69, sobre o mau
desempenho dos alunos de medicina da instituição no Enade
(Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).
Os alunos obtiveram conceito 2 e ficaram entre as quatro
últimas faculdades públicas
avaliadas. Dantas, que é baiano,
creditou anteontem o mau resultado ao "baixo QI [quociente
de inteligência] dos baianos".
Afirmou ainda que "o baiano
toca berimbau porque só tem
uma corda. Se tivesse mais
[cordas], não conseguiria".
Ontem, Dantas disse que as
declarações foram um "desabafo", mas não negou o que disse
(leia mais nesta página).
Jaques Wagner, que nasceu
no Rio de Janeiro, disse, por
meio de sua assessoria de imprensa, que as afirmações de
Dantas são "de uma imbecilidade ímpar, condenáveis sob todos os aspectos e traduzem um
preconceito profundo contra o
povo baiano".
Providências
O reitor da UFBA, Naomar
de Almeida Filho, 56, disse que
as afirmações de Dantas são
"racistas, oligárquicas e reacionárias". "Estou indignado. Foi
uma das coisas mais lamentáveis que já vi. Representa uma
posição racista, oligárquica,
anacrônica e reacionária."
Baiano de Buerarema (462
km de Salvador), o reitor declarou que solicitou "providências" à Faculdade de Medicina.
"Eu não posso demiti-lo, a faculdade tem autonomia. Mas
com essas posições ele não tem
condições de continuar ocupando o cargo."
Entre as hipóteses para o
mau desempenho, Almeida Filho disse que pode ter havido
um boicote dos alunos. "Há
uma posição política dos alunos contra [o Enade]."
O diretor da Faculdade de
Medicina da UFBA e presidente da congregação da instituição, José Tavares Neto, disse
que "é favorável à democracia e
à liberdade de expressão".
De acordo com Tavares Neto,
que afirmou discordar das declarações do professor, "a medicina é um curso que prega o
combate ao preconceito, e por
isso a atitude do professor será
analisada".
Em nota, o Damed (Diretório
Acadêmico de Medicina) da
UFBA disse que, "além de racista, o professor [Dantas] se
mostrou tecnicamente incapaz
de exercer seu cargo".
Baiano de Irará (145 km de
Salvador), o músico Tom Zé, 71,
afirmou que "as escolas e universidades é que estão funcionando com um QI muito baixo,
retrógrado, do passado".
Para ele, as declarações são
uma "piada". "Uma coisa como
essa não se pode nem condenar. Não vamos dar a ele [Dantas] o prazer de xingá-lo."
Investigação
O Ministério Público Federal
na Bahia decidiu ontem investigar as declarações do coordenador do curso.
Um procedimento administrativo foi aberto pelo procurador da República Vladimir
Aras, que considerou as
opiniões de Dantas discriminatórias em termos de raça e
procedência.
Segundo a Procuradoria, a lei
de improbidade administrativa
pode ser aplicada ao coordenador, caso seja comprovado que
houve dano moral. O procurador já questionou a direção da
universidade sobre quais providências serão tomadas em relação a Dantas.
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