São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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Professor que disse que QI de baiano é baixo é alvo de críticas

Para o governador da Bahia, declarações do professor Antônio Dantas são "surto de imbecilidade'; para Tom Zé, são uma "piada"

Coordenador do curso de medicina da UFBA atribuiu mau resultado da universidade no Enade ao nível intelectual dos alunos

Abrantes/Agência A Tarde/Folha Imagem
Antônio Dantas, que disse anteontem que baianos têm baixo QI

JOSÉ EDUARDO RONDON
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), classificou ontem como um "surto de imbecilidade" as declarações do coordenador do curso de medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Antônio Natalino Dantas, 69, sobre o mau desempenho dos alunos de medicina da instituição no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).
Os alunos obtiveram conceito 2 e ficaram entre as quatro últimas faculdades públicas avaliadas. Dantas, que é baiano, creditou anteontem o mau resultado ao "baixo QI [quociente de inteligência] dos baianos". Afirmou ainda que "o baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria".
Ontem, Dantas disse que as declarações foram um "desabafo", mas não negou o que disse (leia mais nesta página).
Jaques Wagner, que nasceu no Rio de Janeiro, disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que as afirmações de Dantas são "de uma imbecilidade ímpar, condenáveis sob todos os aspectos e traduzem um preconceito profundo contra o povo baiano".

Providências
O reitor da UFBA, Naomar de Almeida Filho, 56, disse que as afirmações de Dantas são "racistas, oligárquicas e reacionárias". "Estou indignado. Foi uma das coisas mais lamentáveis que já vi. Representa uma posição racista, oligárquica, anacrônica e reacionária."
Baiano de Buerarema (462 km de Salvador), o reitor declarou que solicitou "providências" à Faculdade de Medicina. "Eu não posso demiti-lo, a faculdade tem autonomia. Mas com essas posições ele não tem condições de continuar ocupando o cargo."
Entre as hipóteses para o mau desempenho, Almeida Filho disse que pode ter havido um boicote dos alunos. "Há uma posição política dos alunos contra [o Enade]."
O diretor da Faculdade de Medicina da UFBA e presidente da congregação da instituição, José Tavares Neto, disse que "é favorável à democracia e à liberdade de expressão".
De acordo com Tavares Neto, que afirmou discordar das declarações do professor, "a medicina é um curso que prega o combate ao preconceito, e por isso a atitude do professor será analisada".
Em nota, o Damed (Diretório Acadêmico de Medicina) da UFBA disse que, "além de racista, o professor [Dantas] se mostrou tecnicamente incapaz de exercer seu cargo".
Baiano de Irará (145 km de Salvador), o músico Tom Zé, 71, afirmou que "as escolas e universidades é que estão funcionando com um QI muito baixo, retrógrado, do passado".
Para ele, as declarações são uma "piada". "Uma coisa como essa não se pode nem condenar. Não vamos dar a ele [Dantas] o prazer de xingá-lo."

Investigação
O Ministério Público Federal na Bahia decidiu ontem investigar as declarações do coordenador do curso.
Um procedimento administrativo foi aberto pelo procurador da República Vladimir Aras, que considerou as opiniões de Dantas discriminatórias em termos de raça e procedência.
Segundo a Procuradoria, a lei de improbidade administrativa pode ser aplicada ao coordenador, caso seja comprovado que houve dano moral. O procurador já questionou a direção da universidade sobre quais providências serão tomadas em relação a Dantas.


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